Foi debaixo de chuva ininterrupta e ao som da música “Seja Agora” dos Deolinda que cerca de 20 trabalhadores da Efacec se concentraram à frente da entrada do edifício principal da empresa, segurando faixas onde se liam as frases “Pela defesa dos postos de trabalho e dos direitos dos trabalhadores. Não à reprivatização”, “Contra o vergonhoso despedimento coletivo” e “Pela nacionalização da empresa”.
Em declarações à Lusa, o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Industrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (Site-Norte) Miguel Moreira diz-se surpreendido com a decisão do Governo de ter aprovado na quinta-feira o caderno de encargos para a reprivatização dos 71,73% do capital da Efacec que foram alvo de nacionalização.
“Qual o nosso espanto deste Governo tomar uma decisão destas sem nos dizer nada e apanharem-nos de surpresa”, declarou Miguel Moreira, acrescentando que “estes senhores que nos governam podem ter muita coisa, mas palavra é que não têm com certeza”.
O sindicalista asseverou que nas reuniões que o Site-Norte teve com o Governo sempre lhes foi dito que se houvesse qualquer alteração, o sindicato seria informado.
“Já nem estou desiludido com a decisão política, estou desiludido com a personalidade e caráter destes senhores, porque fizeram exatamente o contrário do que nos foi dito, ou seja, o Governo pode decidir até vender a Efacec ou dar, mas devia respeitar as pessoas e ter caráter”, criticou.
O Site-Norte também denunciou hoje que um despedimento coletivo de 21 trabalhadores qualificados em que foi incluída "praticamente toda a Comissão Sindical da Efacec Energia".
“Este despedimento foi feito com o único objetivo de afastar elementos mais reivindicativos, que não se deixavam influenciar pela administração e que continuavam a denunciar o que se passava de errado na empresa”, lê-se num comunicado entregue aos trabalhadores durante a manifestação, apelando que se “acabe com a política de perseguição e intimidação aos trabalhadores”.
Marco Rodrigues, trabalhador da Efacec, elemento da Comissão de Trabalhadores da empresa e delegado sindical, foi englobado no despedimento coletivo e participava hoje à tarde na concentração à frente das instalações da Efacec.
Questionado pela Lusa sobre se considerava ter sido despedido por ser delegado sindical e elemento da Comissão de Trabalhadores, Marco Rodrigues foi assertivo na declaração, dizendo “claro que sim. Foi certinho”.
O trabalhador despedido disse, todavia, acreditar na reintegração dos 21 trabalhadores na empresa: "Acredito que o Governo vai obrigar a Efacec a reintegrar os trabalhadores. Sem dúvida”
Ana Marques, dirigente do Site-Norte e antiga trabalhadora da Efacec, disse hoje à Lusa que os trabalhadores da Efacec que “estão no despedimento coletivo estão dispostos a lutar até ao fim”.
“Se não estivessem dispostos a lutar não teriam ido para tribunal, porque se sentem-se injustiçados. Sentem que isto foi vergonhoso e, portanto, vão lutar até ao fim”
Segundo recordou o SITE Norte, em 2020 a Efacec alegou estar com dificuldades devido ao caso “Luanda Leaks” e em abril colocou em ‘lay off’ cerca de 60% dos trabalhadores, quando ao mesmo tempo eram “feitas horas extras e contratadas empresas externas para substituir quem estava em lay off”.
O Site-Norte defende a nacionalização definitiva e integração no setor empresarial do Estado, apelando ao Governo para que proceda à “integração da empresa no setor empresarial do Estado”, para “que ponha termo ao vergonhoso despedimento coletivo” e que “defenda o futuro da empresa, dos trabalhadores, dos seus postos de trabalho e que acabe com a precariedade existente”.
“Estaremos atentos e faremos todas as lutas que sejam necessárias de forma a garantir o futuro da Efacec, dos trabalhadores e dos seus postos de trabalho”, promete o SITE Norte.
Em 02 de julho, o Governo aprovou um decreto-lei para nacionalizar 71,73% do capital social da Efacec, e na quinta-feira o caderno de encargos para a reprivatização desse capital, prevendo que o processo demore cerca de seis meses.
A nacionalização da Efacec decorreu da saída de Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos do capital da Efacec, na sequência do envolvimento do seu nome no caso 'Luanda Leaks', no qual o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação revelou, em 19 de janeiro passado, mais de 715 mil ficheiros que detalham alegados esquemas financeiros da empresária e do marido que lhes terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano através de paraísos fiscais.
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