Esta é uma das principais conclusões do projeto “Oleavalor”, desenvolvido desde 2016 por investigadores da Universidade de Évora (UE), do Instituto Politécnico de Portalegre (IPP), do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e do Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Alentejo (CEBAL).
“Não há dúvida de que os olivais intensivos (250/300 oliveiras por hectare) em regadio podem ser tão rentáveis como os mesmos olivais plantados com as variedades estrangeiras, nomeadamente a Arbequina que, nos últimos anos, tem ocupado mais de 70% das novas plantações”, disse hoje à agência Lusa Francisco Mondragão Rodrigues, professor na Escola Superior Agrária de Elvas e coordenador da equipa do IPP, responsável pelos ensaios de campo em olivais em produção.
Para “travar” a descaracterização da olivicultura e dos azeites do Alentejo, os investigadores reuniram esforços para “tentar solucionar” aquilo que está na origem do desinteresse dos olivicultores pelas principais variedades autóctones, nomeadamente as variedades Galega Vulgar, Cobrançosa, Cordovil de Serpa, Blanqueta, Azeiteira, Carrasquenha e Verdeal Alentejana.
“É sobretudo a falta de plantas em viveiro e a falta de informação para melhor condução das nossas variedades que tem levado os olivicultores a plantar Arbequina”, lamenta o investigador.
De acordo com Francisco Mondragão Rodrigues, a variedade Arbequina, é “muito produtiva” por ser resultante de melhoramento genético ao longo de décadas, está disponível “aos milhões” nos viveiristas nacionais e espanhóis, e vem acompanhada de recomendações técnicas para a sua condução (adubações, rega, poda de formação e condução)”, disse.
“Nós estamos a fazer aquilo que deveria estar feito há mais de 50 anos, que é obter toda a informação para caracterizar o crescimento e as necessidades das nossas variedades para as colocar a produzir no seu máximo potencial”, acrescentou.
Com o projeto “Oleavalor”, os investigadores conseguiram desenvolver um protocolo que permite passar de taxas de enraizamento de 30 a 40% para mais de 90%, desenvolver um teste “multíplex” capaz de, com poucos custos e de forma expedita, identificar a presença dos três mais importantes vírus da oliveira.
Além desses aspetos, os investigadores conseguiram “afinar” o princípio de uma vacina com vetores virais atenuados para combater fungos e bactérias, nomeadamente a gafa e a xylela, a ser administrada em plantas em viveiro, para levar plantas imunes para o campo, bem como a definição das melhores práticas culturais para obter a máxima produção de azeitona e azeite.
Desenvolver técnicas de laboratório que identificam, de forma inequívoca, os azeites das variedades autóctones em estudo e definir a evolução dos polifenóis e do perfil de ácidos gordos destas variedades, ao longo da maturação e do armazenamento, foram outras das “conquistas” desta investigação.
“Com base em alguns estudos de custos de produção que já fizemos, concluímos que as variedades em estudo, se forem bem conduzidas, podem ser tão rentáveis como as estrangeiras. Mantemos assim o nosso material genético, a genuinidade dos nossos azeites, o património olivícola português”, disse.
Ao longo dos últimos quatro anos, a equipa do IPP trabalhou neste projeto com olivicultores de Campo Maior, Elvas, Monforte e Serpa.
O “Oleavalor” implicou um investimento de quase 800 mil euros, financiado por fundos comunitários, através do programa Alentejo 2020.
Francisco Mondragão Rodrigues revelou ainda que o projeto “Oleavalor” termina no final do mês de junho, tendo sido já apresentada uma outra candidatura a fundos comunitários para “difundir” os resultados do estudo junto de cooperativas, agrupamentos de produtores e olivicultores.
“Nós também já fizemos um pedido, ao programa Alentejo 2020, de prorrogação de prazos para o projeto ‘Oleavalor´ até dia 30 de março de 2020, para podermos acompanhar mais uma campanha de colheita de azeitona (2019). Queremos ter três campanhas de campo completas”, acrescentou.
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