"Criámos uma almofada fiscal de cerca de 26 - 27 mil milhões de libras (29 - 30 mil milhões de euros) e o objetivo de ter essa almofada é precisamente proteger a economia do Reino Unido dos efeitos imediatos de uma possível saída sem acordo", explicou hoje na Câmara dos Comuns.
O ministro disse não ter dúvidas de que o país vai precisar "de todo esse dinheiro e mais para responder aos impactos imediatos da perturbação de uma saída sem acordo, e isso significará que não vai haver dinheiro disponível para cortes de impostos ou aumentos da despesa [pública] a longo prazo".
Hammond acrescentou ainda, durante um debate com deputados, que o impacto de um ‘Brexit' sem acordo nas finanças públicas poderá ascender a cerca de 90 milhões de libras (100 milhões de euros) e que "isso terá que ser levado em conta em decisões futuras sobre impostos ou despesas".
A intervenção do ministro das Finanças vem juntar-se a outros avisos feitos na segunda-feira aos candidatos à liderança do partido Conservador Boris Johnson e Jeremy Hunt para se controlarem nas promessas que estão a fazer em termos de despesa pública.
Boris Johnson, o favorito para suceder a Theresa May e ser nomeado primeiro-ministro, afirmou que no domingo, em entrevista à Sky News, que pretendia gastar cerca de 25 mil milhões de libras (28 mil milhões de euros) para financiar os seus planos de investimento em escolas, infraestruturas e salários públicos e ao mesmo tempo cortar a carga fiscal sobre trabalhadores com rendimentos médio-altos.
Na segunda-feira, foi a vez de Jeremy Hunt anunciar a criação de um fundo de seis mil milhões de libras (sete mil milhões de euros) para ajudar as indústrias de pesca e agricultura no caso de um ‘Brexit’ sem acordo, além da redução de impostos sobre as sobre as empresas e o aumento com gastos com a Defesa, promessas que se estima totalizarem cerca de 27 mil milhões de libras (30 mil milhões de euros).
"Há sempre a tentação de entrar numa espécie de guerra de licitações sobre gastar mais e cortar impostos. Mas não é possível fazer as duas coisas e, se não formos cuidadosos, vamos acabar por ter de nos endividar mais, gastando mais em juros do que em escolas, hospitais e policiais", advertiu Philip Hammond, numa entrevista à BBC.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, e o antecessor e antigo ‘Mayor' de Londres Boris Johnson disputam a eleição interna no partido Conservador para suceder a Theresa May à frente do partido, e, consequentemente, no cargo de primeiro-ministro.
Ambos participaram hoje num debate na Irlanda do Norte, no âmbito de uma série de encontros em diferentes partes do país para tentar ganhar apoio entre os cerca de 160 mil militantes, cujo voto vai decidir qual dos dois vai substituir Theresa May.
Os militantes podem votar, por via postal, até às 16:00 horas de 22 de julho, sendo o vencedor divulgado no dia seguinte, desencadeando a demissão da primeira-ministra britânica para dar o lugar ao novo líder do partido do governo.
Theresa May renunciou à liderança do partido Conservador a 07 de junho devido às dificuldades em fazer aprovar o acordo de saída que concluiu com Bruxelas em novembro, mas continua como chefe de governo até a eleição do sucessor.
Ambos os candidatos comprometeram-se a concretizar o ‘Brexit’ até ao fim do prolongamento para o processo, a 31 de outubro, mesmo sem acordo, mas o ministro das Finanças reiterou hoje no parlamento o risco deste cenário.
"A análise do governo mostra que uma saída sem acordo significaria que todas as regiões, nações e setores da economia do Reino Unido teriam uma produção económica menor em comparação com as condições atuais", vincou Hammond.
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