“A inflação permanece ainda um fenómeno temporário, associado à recuperação da crise económica, à sua rapidez e dificuldade em retomar mecanismos que foram desativados”, afirmou Mário Centeno, na abertura da conferência ‘Banca do Futuro’, organizado pelo Jornal de Negócios.
Segundo o governador do Banco de Portugal, na Europa ainda não se verificam “efeitos de segunda ordem do mercado de trabalho com preços”.
Ou seja, para já ainda não há impacto da subida dos preços nos salários com efeito de tornar a inflação um fenómeno permanente.
Quanto à economia, segundo o ex-ministro das finanças do PS, do governo de António Costa, o ajustamento será gradual e não “se pode soçobrar perante as dificuldades que de momento são sobretudo de natureza tecnológica do que económica”.
A política monetária, afirmou, não consegue resolver um problema que se deve a choques de oferta (desde logo por problemas nas cadeias de abastecimento) e o importante é que permaneça acomodatícia, apoiando o crescimento económico.
Também a política orçamental, disse, deve acompanhar a recuperação, desde logo acompanhando os setores mais vulneráveis, mas “sem acumular riscos futuros”.
Ainda é “difícil avaliar se estamos perante uma transição económica mais verde e mais digital ou se estamos perante uma metamorfose, algo mais profundo no sistema económico e social, onde as desigualdades ganham novo prisma e devem ser preocupação central”, disse Mário Centeno.
O Banco Central Europeu (BCE) vai realizar no próximo mês um encontro crucial para o futuro, no qual deverá delinear os estímulos pós-pandemia, num cenário de nova vaga de covid-19 na Europa.
Responsáveis da instituição financeira europeia, incluindo a sua presidente, Christine Lagarde, têm insistido que o atual pico dos preços no consumidor é transitório, tornando improvável um aumento da taxa de juro no próximo ano.
A presidente do BCE admitiu esta semana que a inflação na zona euro possa continuar “mais elevada durante mais tempo” devido aos preços energéticos, relacionados com a crise no setor, e que “isto poderá contribuir para salários mais elevados e, subsequentemente, preços mais elevado”.
Contudo, salvaguardou que, de momento, “não existe qualquer prova disso nos dados relativos aos salários negociados [já que] se prevê um crescimento salarial no próximo ano potencialmente superior ao deste ano, mas o risco de efeitos de segunda ordem permanece limitado”.
A taxa de inflação anual da zona euro passou em outubro para os 4,1%, face aos 3,4% de setembro, puxada pelo aumento dos preços da energia.
“A taxa aumentou mais do que tínhamos previsto […] e foi impulsionada por três forças primárias, a primeira delas é a dos preços da energia”, apontou a responsável, precisando que “a inflação energética foi responsável por pouco mais de metade da inflação global”.
“A segunda [razão] é que a recuperação da procura relacionada com a reabertura da economia está a ultrapassar a oferta limitada e isto está a empurrar os preços para cima e a terceira é que a inversão da redução temporária do IVA alemão no ano passado está a impulsionar mecanicamente os atuais números da inflação global”, elencou Christine Lagarde.
Apesar das subidas, “globalmente, continuamos a prever que a inflação a médio prazo permaneça abaixo do nosso novo objetivo simétrico de 2%”, adiantou a líder do BCE.
Quanto à atividade económica na zona euro, registou uma forte recuperação no terceiro trimestre, lembrou Christine Lagarde, admitindo, porém, que “a dinâmica de crescimento está a ser afetada em certa medida devido a estrangulamentos no abastecimento e ao aumento dos preços da energia”.
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