"A revisão em alta da atividade económica acontece num contexto de controlo de pandemia e de adaptação de apoios essenciais aos setores mais afetados", afirmou Mário Centeno, governador do Banco de Portugal.
Para este crescimento "contribuem em partes iguais a procura interna e as exportações", com destaque para o aumento do investimento. Mário Centeno acredita que Portugal atingirá os níveis de 2019, ou seja, pré-pandemia, na primeira metade de 2022, em vez de no segundo semestre do próximo ano, como indicado em março.
O governador do Banco de Portugal admite que os riscos estão enviesados em alta, uma vez que têm subjacente o controlo da pandemia em Portugal, na Europa e no mundo. "Retrocessos nessa dimensão gerariam outra avaliação nesta projeção". "A incerteza que ainda existe sobre a pandemia poderá ter um efeito contrário", diz.
O consumo privado cresce 3,3% em 2021 e recupera mais marcadamente em 2022 (4,9%). O rendimento disponível real cresce 1,3% em média em 2021-23, em resultado da recuperação do emprego e dos salários. O investimento apresenta um crescimento médio de 7% em 2021-23. A componente empresarial deverá crescer 6,4% em média anual, suportada pelas condições financeiras favoráveis, pelos fundos europeus, pela recuperação da procura e pela gradual redução da incerteza.
O investimento público apresenta um crescimento mais elevado, cerca de 20% em média, refletindo a implementação do Plano de Recuperação e Resiliência, que representa cerca de 30% do investimento público previsto para 2022-23. As exportações apresentam um crescimento de cerca de 14% em 2021-22, com diferenças marcadas entre bens e serviços. As exportações de bens recuperaram os níveis pré-crise logo na segunda metade do ano de 2020. A recuperação das exportações de serviços será mais lenta, ficando mesmo abaixo do nível de 2019 no final do horizonte de projeção.
O ritmo de recuperação será diferenciado entre países, condicionado uma vez mais pela evolução da pandemia, pela estrutura produtiva e pela escala e eficácia das medidas de apoio, com destaque para o impacto do Next Generation EU (NGEU).
Os fundos europeus têm um impacto positivo nas contas externas. Em média, os recebimentos deverão representar cerca de 3,9% do PIB em 2021-23 (2,2%, em média, em 2013-19). Estes fundos incluem também montantes associados ao Quadro Financeiro Plurianual (QFP) 2014-20, agora em fase de finalização, e ao QFP 2021-27.
Quanto ao emprego, o Banco de Portugal espera um aumento de 1,3% já em 2021. A taxa de desemprego deverá atingir os 7,2% este ano, passando para 7,1% em 2022 e 6,8% em 2023. Há atualmente menos 56 mil empregos na economia portuguesa.
“A trajetória de redução da taxa de desemprego será condicionada pela recuperação mais lenta das atividades mais afetadas pela pandemia, que tendem a ser intensivas em trabalho”, sublinha o documento, apontando que os dados do desemprego registado nos centros de emprego até abril de 2021 mostram que o desemprego aumentou face aos valores pré-pandemia e se mantém elevado sobretudo no alojamento e restauração, comércio e serviços de apoio.
O Boletim nota ainda que os salários apresentam um crescimento médio de 2,3% em 2021-23, após uma variação de 2,9% em 2020 e de 3,7% em 2018-19, crescendo de forma mais moderada do que no período anterior à pandemia.
Mário Centeno considera que "ao Estado compete garantir que há mecanismo de transição, nomeadamente no caso das moratórias, para empresas em setores que ainda estão deprimidos face ao período anterior à crise". Esses mecanismos, diz, devem ser "simples", "temporários" e "focados". No entanto, acrescenta, "não se pode pedir ao Estado que o faça apenas e que as empresas não tenham um contributo". "Apoios que perduram no tempo levam a perdas para o Estado que perduram no tempo", afirma.
Segundo o governador do Banco de Portugal, os apoios disponibilizados chegaram a 32% das empresas, que representam 60% do emprego das empresas em Portugal.
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