José Manuel Lopes de Castro falava à Lusa a pouco menos de uma semana do encontro anual da Associação Portuguesa das Indústrias Gráficas e Transformadoras do Papel (Apigraf), que decorre a 11 e 12 de março, no Luso, e onde será feito um balanço de 2022, que fechou “positivo” e irão também falar dos 170 anos do associativismo gráfico.
“Iremos comemorar no fim do ano com uma exposição no Porto, na Faculdade de Belas Artes, e com o lançamento de um livro com dois volumes sobre os 170 anos do associativismo”, diz, adiantando que para a produção de conteúdo tem a parceria da Universidade Nova, mais precisamente do Instituto de História Contemporânea, e conta com alto patrocínio da Presidência da República”.
Este “é um projeto de peso” em que a Apigraf apostou, com o objetivo de “mostrar uma dinâmica de um setor” que “recorrentemente não é conhecido”, destaca José Manuel Lopes de Castro.
Relativamente ao encontro anual, refere que o balanço será feito sem números, “porque não há números fechados”, mas há “sensibilidades”.
E, nesse ângulo, “o ano foi bom genericamente”, apesar de o primeiro semestre ter sido “um desastre com a escassez de matéria-prima [papel] e pelo aumento brutal” do preço da mesma, algo que foi “transversal ao setor todo”, refere.
No entanto, em meados do ano passado, o mercado “começou a estabilizar, a normalizar, e agora penso que as coisas estarão mais ou menos normalizadas na oferta e mais ou menos estabilizadas no preço”, considera o presidente da Apigraf, setor que emprega cerca de 20.000 trabalhadores, conta com mais de 2.700 empresas e representa 4% da indústria transformadora.
“O ano — temos que confirmar isso com números –, pelos indicadores que temos, foi positivo, o que é francamente bom”, avança.
Estes são alguns dos pontos que a Apigraf vai partilhar no encontro, salientando que o setor é muito mais do que as artes gráficas, inclui o setor editorial, o da embalagem, os dos rótulos, só para citar alguns.
Por exemplo, no setor editorial livro acontece um “fenómeno estranho positivo” diz, que é contrário ao editorial jornal e revistas.
“Mais uma vez, em 2022 o livro voltou a subir, quer na aquisição, quer os números de leitores subiram, mas os números de compradores também subiram na Europa toda, é um fenómeno interessante”, destaca o presidente da Apigraf.
Lopes de Castro considera que as notícias da morte do livro foram manifestamente exageradas e estes dados de 2022 comprovam isso: “Já foi considerado morto várias vezes, está a subir, está a crescer e há indicadores de que está para ficar e bem”.
Agora, “o jornal, todos, todos baixaram muito de tiragens”, enfatiza, apontado que algumas até são “residuais”.
A leitura do jornal, diz, “foi comprometida pela oferta, quer ao nível do telefone, ‘tablet’, essa oferta toda digital”, prossegue, salientado que “vão resistindo e bem os jornais muito vincados”.
A nível internacional, aponta, “há projetos interessantes”, quer nos Estados Unidos e na Europa, de jornais que deixaram de imprimir em papel e que agora estão a regressar à impressão.
“Porque só regressando ao papel é que têm acesso a uma receita chamada publicidade impressa, é um fenómeno engraçado”, exemplifica.
No caso português, há o Diário de Notícias (DN), que saiu do papel e depois regressou, mas com baixas tiragens.
“Há uma coisa que me parece que está comprovada: os subscritores do jornal ‘online’ são os compradores do jornal em papel”, refere José Manuel Lopes de Castro.
O mesmo acontece com os leitores de livros, que são os compradores dos ‘ebooks’ [livros eletrónicos] Kobo e Kindle, “esses aparelhos não criaram novos mercados de leitura”, refere.
No caso dos jornais, insiste, “estamos a falar de um setor em crise há muito tempo, não é de agora” e “dificilmente voltará ao que era”.
Em suma, atualmente a oferta e a procura de papel “já estão equilibradas e, por exemplo, estabilizou uma coisa que era uma preocupação para nós, o preço também estabilizou, estabilizou em alta, mas está estabilizado”, sublinha.
“Agora, o drama que vivemos o ano passado, no primeiro semestre, não termos matéria-prima foi complicado” e isso teve consequências, entre os quais jornais “encerraram” e “há projetos editoriais que não foram realizados porque simplesmente não foi produzido, não havia matéria-prima”, diz.
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