O apuramento de Portugal para o campeonato do mundo de râguebi começa a entrar na normalidade, mas os problemas estruturais e de financiamento da modalidade parecem não sair do que tem sido normal no râguebi nacional nos últimos longos anos.

A seleção nacional conseguiu o terceiro apuramento para um mundial, a segunda vez consecutiva e a primeira por qualificação direta. Durante as celebrações do eito histórico e inédito, à porta do balneário onde levou os patrocinadores identificados à entrada (Santander, Cartrack e Hovione) e, mais tarde, em conversa telefónica, Carlos Amado da Silva, presidente da Federação Portuguesa de Râguebi (FPR), relembrou necessidades e pedidos antigos.

“Recebemos anualmente cerca de um milhão de euros de verba de apoio do Estado, através do IPDJ”, referiu. “Mas precisamos de mais 500 mil euros para a preparação (mundial Austrália2027)”, disparou. Um apoio de mais 500 mil euros que considera ser "nada de extraordinário”, catalogou. "Quantas modalidades se apuram duas vezes seguidas para mundiais”, questionou.

À boleia das felicitações recebidas por parte do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, faz, de novo, um “pedido de apoio” governamental e estatal. A prática tem sido recorrente por parte do responsável máximo federativo desde que tomou posse em 2019, pedidos reforçados na caminhada para o anterior mundial, França2023.

“Temos este ano um orçamento de 4 milhões de euros e o governo financia cerca de um milhão. Recebemos essa verba há 10 anos quando estávamos na 3.ª divisão”, apontou. “Estamos a pedir um terço do valor do orçamento”, reforçou.

Engenheiro de profissão, Amado da Silva explica as contas. Começa por recuar a uma verba de 350 mil euros que ficou pendurada do anterior executivo, relacionada com a presença da seleção portuguesa no mundial de França2023.

“A requisição dos jogadores não profissionais (de râguebi) foi feita pelo IPDJ, mas adiantámos o pagamento dos salários desses jogadores profissionais de outras atividades que perdem os seus salários por terem estado quatro meses ao serviço da seleção nacional durante o anterior mundial”, recordou.

“Esses salários devem ser repostos pelo governo, salários que perdem por estarem a representar Portugal”, enfatizou.

“Ainda não conseguimos resolver essas contas”, lamentou, descartando responsabilidade do atual executivo. “Não estamos a falar de prémios, estamos a falar de salários”, realçou.

Os pedidos não terminam aqui. “Temos dois anos para nos preparar para a Austrália. Precisamos de meios. Necessitamos de um estádio com capacidade oito mil espectadores. Temos o projeto feito onde possamos colocar as academias, o Centro de Alto Rendimento e receber os jogadores. Custa 15 milhões de euros”, disse, e tem o "apoio das câmaras municipais de Lisboa e de Oeiras” e “de uma empresa privada”.

Continua. “Gastamos cerca de 250 mil euros em hotéis”, valores e verba que poderiam ser canalizadas para outras despesas caso estivesse a funcionar um Centro de Alto Rendimento capaz de receber os atletas. “Um rapaz de mais de 1,90m não cabe nas camas”, exemplificou.

“É altura de considerar o râguebi como modalidade nacional”, adiantou ainda Carlos Amado da Silva, presidente da FPR. “Os lobos são um produto extraordinário, mas têm sido mal vendidos (leia-se, comprados por potenciais patrocinadores)”, finalizou.