1. A retoma não pode ser encarada como uma continuação da época. Até a NBA está a usar a hashtag #WholeNewGame para promover esta retoma. Apenas 22 equipas estão presentes e há algumas mudanças nos plantéis, entre lesões, regressos e ausentes por opção. Têm sido vários os atletas e treinadores que afirmam que esta retoma está a ser encarada como uma temporada isolada e, na opinião de alguns deles, será mais dura do que uma época normal. Não pelo que significa em termos físicos, mas sim pelos desafios mentais que representa. Sem adeptos nas bancadas, a química no balneário das equipas pode ter um papel ainda mais decisivo nos sucessos. Será interessante perceber que bancos de suplentes estarão mais ativos no papel de cheerleaders dos cinco colegas dentro das quatro linhas.
2. Com o estado da Flórida a registar números recordes de infeção por COVID-19 nas semanas mais recentes, a possibilidade de um surto dentro da "bolha" é admitido pela NBA, até porque o staff da Disney que dá apoio à liga não está confinado ao resort. Se se registar um surto significativo entre as equipas, Adam Silver admite a hipótese de cancelar a época. Apesar da ameaça, as últimas duas rondas de mais de 300 testes a todos os jogadores em Orlando não acusaram positivos. No entanto, é preciso controlar os ímpetos que a rotina da "bolha" provoca nos atletas. Richaun Holmes (Sacramento Kings), Bruno Caboclo (Houston Rockets) e Lou Williams (Los Angeles Clippers) foram apanhados a tentar contornar o sistema e tiveram que cumprir um novo período de quarentena.
3. Sem "factor casa" nos playoffs, os oito jogos da fase regular servirão apenas para definir a classificação final e estabelecer a posição no «bracket» da fase a eliminar, o que poderá ser importante na intenção de chegar o mais longe possível. Mas, mais importante do que isso, estes oito jogos servem para os atletas chegarem a índices físicos mais próximos do ideal. Equipas mais jovens, como os New Orleans Pelicans, poderão ter mais facilidade em ganhar rotinas, enquanto conjuntos com mais veteranos devem sentir dificuldades em render de imediato. Sem a pressão do público sobre atletas (e árbitros), os treinadores terão uma oportunidade ainda maior de brilharem nos momentos decisivos dos jogos.
4. Há muitas ausências por opção dos próprios jogadores, por motivos pessoais ou apenas e só porque vão ser «free agents» e não querem arriscar uma lesão que coloque em causa o próximo contrato. Avery Bradley (Los Angeles Lakers), Thabo Sefolosha (Houston Rockets), Willie Cauley-Stein (Dallas Mavericks), Spencer Dinwiddie e DeAndre Jordan (Brooklyn Nets), Trevor Ariza (Portland Trailblazers), LaMarcus Aldridge (San Antonio Spurs), Kelly Oubre Jr. (Phoenix Suns), Bradley Beal (Washington Wizards) e Davis Bertans (Washington Wizards) são alguns dos nomes que desfalcam as suas equipas, mas há casos de jogadores que também já anunciaram que vão abandonar a "bolha" durante a prova. Gordon Hayward, por exemplo, vai ser pai durante os playoffs e já afirmou que os Boston Celtics não vão contar com ele a partir de determinada altura.
5. Se no Este os Washington Wizards têm poucas ou nenhumas hipóteses de chegar aos playoffs, no Oeste prevê-se muita emoção. Para já, os Memphis Grizzlies ocupam o 8.º e último lugar que dá acesso à próxima fase da competição, mas New Orleans Pelicans, Sacramento Kings, Portland Trailblazers e San Antonio Spurs estão à espreita - os Phoenix Suns foram só passear a Orlando -, nem que seja através do play-in. A formação onde brilha Zion Williamson tem o calendário mais fácil entre todas as 22 equipas e muitos especialistas apostam neles.
6. Depois de 22 anos seguidos a marcar presença nos playoffs, os San Antonio Spurs arriscam a ficar de fora da fase a eliminar. Sem contar com o extremo/poste LaMarcus Aldridge e com três equipas à frente (Trailblazers, Pelicans e Kings) na luta pelo 9.º posto do Oeste, que daria acesso ao play-in com o 8.º classificado, o talento de DeMar DeRozan parece ser insuficiente para liderar os texanos a grandes voos. E, mais uma vez, surge a questão: será esta a «Last Dance» para o lendário treinador Gregg Popovich?
7. Os regressos do poste Jusuf Nurkic e do extremo/poste Zach Collins, ambos titulares antes das lesões, podem ter impacto nas hipóteses dos Portland Trailblazers em atingir os playoffs. Também se saúdam os regressos de Andre Roberson (Oklahoma City Thunder) e de Jonathan Isaac (Orlando Magic), mas estas equipas não podem almejar a muito mais do que uma primeira ronda de playoffs. Os Thunder, com um encaixe certo no «bracket» podem sonhar com a segunda ronda, mas não devem passar daí.
8. A "bolha" pode ser pródiga em experiências e destaques individuais inesperados. O gigante Bol Bol tem dado nas vistas pelos Denver Nuggets, nos «scrimmages» realizados já em Orlando, e nomes como os de Keldon Johnson (San Antonio Spurs) ou Nickeil Alexander-Walker (New Orleans Pelicans) podem surgir como boas surpresas do que resta da temporada. Em termos coletivos, há muita expectativa para perceber, afinal, o que significa para os Philadelphia 76ers a derivação de Ben Simmons para extremo/poste no cinco para cinco em meio campo ou o que vale o «small ball» dos Houston Rockets nos playoffs, sobretudo se tiverem pela frente equipas com postes de qualidade, como Anthony Davis, Rudy Gobert ou Nikola Jokic.
9. A limitação do número de pessoas dentro da "bolha" implica uma menor cobertura jornalística das equipas e isso tem permitido o aparecimento de conteúdos criados pelos próprios atletas. Os vlogs de Matisse Thybulle (Philadelphia 76ers) e JaVale McGee (Los Angeles Lakers), por exemplo, continuarão a dar-nos acesso ao balneário, aos quartos de hotéis e, no geral, ao quotidiano das estrelas da NBA. Ver uma zaragatoa entrar pela narina do Boban Marjanovic não é propriamente uma imagem bonita, mas este tipo de conteúdos dão a possibilidade de entender mais facilmente o que vive um jogador que está confinado no Walt Disney World Resort.
10. As questões de justiça social estarão sempre presentes na "bolha" de Orlando. Seja nos nomes que os atletas vão usar nas costas dos equipamentos, no próprio piso dos pavilhões ou nas conferências de imprensa e todas as interações com o mundo exterior, todas as plataformas existentes serão utilizadas pelos protagonistas para dar voz aos temas que têm estado na ordem do dia nos Estados Unidos, como o racismo estrutural ou a brutalidade policial. Esperam-se protestos pacíficos, como o ajoelhar durante o hino, entre muitos outros.
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