Algarve. Eleito Melhor Destino do Mundo para estrangeiros e reformados, em 2019, pela Life and Invest Overseas, uma publicação norte-americana; Melhor Região Europeia em Turismo e Gastronomia 2018, distinção atribuída pelo Conselho Europeu de Confrarias Enogastronómicas (CEUCO); Melhor Restaurante de Alta Gastronomia - Vila Joya Hotel Restaurante (Albufeira), nos World Travel Awards 2018; e Melhor Destino de Praia, nos World Travel Awards 2017. Recebeu ainda três galardões no Golfe atribuídos pelo World Golf Awards.
Estes são alguns dos prémios recentes que enchem a vitrina da sala de troféus da Região de Turismo do Algarve (RTA), região que recebeu 4,2 milhões de hóspedes em 2018, a que corresponderam 1081 milhões de euros, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), relatando dados sobre a atividade turística.
Sol, praia, golfe, gastronomia e história são as bandeiras de sempre, a que se junta, esta semana, a componente desportiva.
A Volta ao Algarve em bicicleta, categoria 2.HC, a mais elevada do circuito Europe Tour, arrasta, este ano, 12 equipas do UCI WorldTour, escalão máximo da modalidade, entre as quais as três melhores do ranking mundial de 2018 - Deceuninck-Quick Step (Bélgica), Team Sky (Reino Unido) e Bora-hansgrohe (Alemanha) – e as duas primeiras equipas do ranking Europe Tour, Wanty-Groupe Gobert (Bélgica) e Cofidis, Solutions Crédits (França), integradas na categoria continental profissional, o segundo escalão.
Um cartão-de-visita de excelência para a promoção de uma prova transmitida para 121 países (em Portugal pode ser seguida na TVI e no Eurosport), atingindo 148 milhões de lares, a que acresce 13,3 milhões de seguidores nas principais redes sociais (Facebook, Twitter e Instagram). Um alcance só possível pelos 168 corredores oriundos de 23 países presentes no pelotão.
“Sou um Brexitee (refugiado do Brexit)”
Dia 20 de fevereiro. O sol estava tímido, a temperatura (entre os 9 e os 18 graus) estava dentro dos parâmetros normais para a época, embora estivesse bem acima da média para muitos daqueles que se colocavam na linha de partida, em Portimão, Cidade Europeia do Desporto, ou na meta, em Lagos, Cidade dos Descobrimentos.
Eram na sua grande maioria estrangeiros. Formavam grupos, uns maiores que outros, alinhados pela idade, todos acima dos 50. Havia quem tocasse a fronteira dos 80. Uns vinham em casal; outros em excursões. Alguns tinham chapéus encarnados na cabeça, chapéus oferecidos por um dos patrocinadores da prova. Outros enfiaram o capacete, vestiram licra e deslocavam-se em duas rodas.
Carol, 73 anos e Bob, 75. Não percebem “nada” de ciclismo, assume este casal de Ontário, Canada, que está “pela 16ª vez no Algarve”, confidencia Bob. “A primeira vez foi em 1994”, recorda Carol, com um brilho nos olhos. “Estamos de férias por um mês”, anuncia Bob. “Eu estou dois meses”, solta Michael, 79, de Toronto, amigo do casal (“conheci-os em Ferragudo”) e que não é novo nestas incursões algarvias.
Luc Verstraete e Sonia Deschepper são belgas. Luc, fala valão. Sonia arranha o inglês. “É a primeira vez que estamos em Portugal”, atira Sonia. “First (primeira)”, reforça. “Almancil”, consegue dizer Luc que se mantém atento à troca de palavras entre o jornalista e a interlocutora do casal. “Quick Step”, rematou este fã de ciclismo, antecipando a pergunta que se seguia.
Algarve que é Algarve tem cidadãos britânicos em cada esquina. Tony é um exemplo. “Vivo há 30 anos aqui”, diz, num inglês carregado de sotaque das Terras de Sua Majestade. Está vestido a rigor. Religiosamente vestido com uma licra. Bem justa, como se fosse um ciclista, embora com mais uns anos em cima quando comparado com os 168 que pedalam pelas estradas da “Algarvia”.
Marcus é o companheiro de fila. Os dois formam uma equipa que “costuma pedalar três vezes por semana, por recreio”, frisa este cidadão alemão (os alemães são a segunda força internacional no sul do país) que estava na Escócia a trabalhar, reformou-se e veio, “há um ano”, para o Algarve. “Sou um Brexitee (refugiado do Brexit)”, diz, meio a sério meio a brincar.
As bicicletas, essas, andaram por Portimão, Lagoa, Albufeira, S.B. Messines, Silves, Serra Espinhaço de Cão e Serra de Monchique, Nave, Caldas de Monchique, Aljezur, desceram, pelo litoral, beijando as praias de Arrifana, Bordeira, Carrapateira, Amado, Cordoeira, Castelejo, até chegarem a Vila do Bispo e fletirem para Lagos.
“Esperamos ver o pelotão três vezes na etapa de hoje antecipa Tony, em Portimão. “Não tenho idade para mais”.
Quem ainda tem idade para se aventurar em cima de um selim é Rosa Mota. Conhecida por palmilhar milhares de quilómetros pelos próprios pés, assume a “paixão” pelo ciclismo. Um amor “desde sempre”, sublinha. A campeã olímpica e mundial da maratona, que no ano passado, com 60 anos, venceu a Mini Maratona de Macau, estava na linha de partida a tentar “arranjar senhoras” para a Volta ao Algarve Feminina, uma “perninha” que fará “sem preparação”, disse, enquanto era solicitada para selfies por fãs da sua idade, e mais velhos.
Fabio. Fabio Jakobsen, o vencedor. E Joana. Joana Susano, a aniversariante
Para Lagos estava reservada a chegada da primeira etapa.
Na marginal, na avenida dos Descobrimentos, o Restaurante “Adega da Marina” serviu de pausa de almoço deste que vos escreve. Os comensais eram quase todos estrangeiros. Duas salas de dimensões bastante consideráveis (acomoda mais de 300 pessoas) com mesas “mais que suficientes” para nos sentarmos nesta altura do ano, segundo um responsável que explicou, ao telefone, que só aceitava marcações até às 13h00 (queríamos marcar mesa para as 13h15) e que a partir dessa hora “não podiam ter as mesas presas por causa das pessoas que enchem o restaurante”.
Vaticínios e incongruências à parte, o dia deve ter rendido bastante. A casa conhecida pelos cachecóis de futebol de “todo o mundo” pendurados no teto estava muito bem composta para um mês de fevereiro.
Os penduricalhos que promovem um caleidoscópio de cores e lã “tem duas razões” na origem. “Necessitava de insonorizar a casa, uma solução integrada”, começa por explicar Jaime Maximiano, um dos sócios desta casa que começou a pendurar cachecóis há “25 anos” no outrora armazém que virou casa de grelhados. “A outra razão é menos alegre. Numa visita ao Hospital da CUF, em Alcântara (Lisboa), uma tasca serviu-me de inspiração”, relata.
“Temos dezenas pendurados, outros guardados, lavamos e vamos trocando”, assume este sportinguista de gema (o sócio é do Benfica), natural de Alpiarça, “uma terra de ciclismo”. Uma razão para que não falte um cachecol do GD Águias de Alpiarça.
Espetada grelhada, acompanhada de batatas fritas e arroz branco, regada a refrigerante e uma mousse de café para adocicar serviu para retemperar forças e esperar pelos bravos da estrada.
Depois do café e de um passeio pela marginal, após o anúncio do speaker de serviço da existência de uma queda que partiu o pelotão em dois, às portas de Lagos, Fabio Jakobsen (Deceuninck-Quick Step) foi o primeiro a cortar a meta, demorando 4:52.59 horas para percorrer o percurso de 199,1 quilómetros.
Uma chegada, ao sprint, que estava estudada. A equipa com passaporte da Bélgica fez “um estágio há algumas semanas, treinamos na região e fizemos o reconhecimento desta chegada a Lagos”, disse no final, o ciclista holandês, debaixo do aplauso de adeptos belgas.
Fabio. Fabio Jakobsen foi o rei do palco, local a que foi chamado por três vezes: Camisola Amarela Águas do Algarve, Camisola Vermelha Cofidis, símbolo da liderança na classificação por pontos e Camisola Branca 120 Anos da Federação Portuguesa de Ciclismo, que premeia o melhor jovem da competição.
Jakobsen, sempre sorridente, dividiu as honras com uma das meninas que está ali para dar um par de beijos (no caso concreto, três), entregar prémios e vestir as camisolas dos vencedores. Joana. A “nossa Joana Susano” quem o speaker não se cansou de relembrar que era “aniversariante”, um facto que lhe valeu ser tratada pelo apelido. Já Sara, a outra menina e companheira de palco, foi sempre e só Sara.
* O jornalista viajou a convite do Eurosport
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