"Não podem ser tomadas decisões sobre a Ucrânia sem a Ucrânia, como não podem ser tomadas decisões sobre a Europa sem a Europa. A Europa tem que ter um assento na mesa" das conversações, disse Zelensky na Conferência de Segurança de Munique.

"Se somos excluídos das negociações relativas ao nosso próprio futuro, todos perdemos", reforçou, num momento crítico para o seu país, invadido pela Rússia a 24 de fevereiro de 2022.

A Ucrânia teme ser excluída, assim como a União Europeia, das negociações para pôr fim a quase três anos de guerra. Especialmente depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter conversado por telefone na quarta-feira com o seu contraparte russo, Vladimir Putin, sobre o futuro da ex-república soviética.

Num discurso este sábado, Zelensky pediu à Europa para agir "por seu bem" e a ter as "suas próprias forças armadas" para se defender da Rússia, enquanto se teme um compromisso militar menor de Washington no continente.

O vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, que está em Munique, reuniu-se na sexta-feira com o mandatário ucraniano e disse desejar uma paz "duradoura" na Ucrânia.

As autoridades americanas, entretanto, enviaram mensagens contraditórias acerca da estratégia de Washington.

O secretário de Defesa, Pete Hegseth, pareceu descartar esta semana a possibilidade de a Ucrânia entrar na NATO ou recuperar todo o seu território.

Europa precisa do "seu próprio plano de ação"

Segundo Zelensky, Putin "não pode oferecer garantias reais de segurança, não só porque é um mentiroso, mas porque a Rússia, no seu momento atual, precisa da guerra para manter o poder coeso".

O líder do Kremlin espera "que o presidente americano esteja na Praça Vermelha [em Moscovo] a 9 de maio [dia em que se comemora a vitória da Rússia sobre a Alemanha nazista] não como um líder respeitado, mas como uma peça da sua própria performance", acrescentou.

Kiev pediu que Washington elaborasse um "plano comum" para enfrentar a Rússia, mas Zelensky observou que ainda não havia uma posição conjunta após a sua reunião com Vance.

"Os Estados Unidos não vão oferecer garantias [de segurança] a menos que as próprias garantias da Europa sejam sólidas", afirmou o chefe de Estado ucraniano aos seus aliados europeus.

O presidente da Ucrânia disse, ainda, que as duras sanções contra a Rússia e o reforço do Exército de Kiev poderiam ajudar a garantir a paz, e disse estar "aberto" à possibilidade de contar com forças de paz europeias.

O chefe do governo alemão, o social-democrata Olaf Scholz, apoiou seu contraparte ucraniano, declarando que "só haverá paz se a soberania da Ucrânia for garantida".

O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, por sua vez, incentivou a Europa a partilhar as suas próprias posições sobre a Ucrânia e as questões de segurança.

"A Europa precisa urgentemente do seu próprio plano de ação sobre a Ucrânia e da nossa segurança, ou então outros atores globais decidirão o nosso futuro", alertou.

Para Tusk, "este plano deve ser preparado agora. Não há tempo a perder", alertou.

O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, disse que os líderes europeus estavam a entrar agora na "fase de planeamento concreto" de possíveis garantias de segurança para a Ucrânia.

A Rússia "não quer a paz"

O Exército russo reivindicou, este sábado, a tomada de uma nova localidade na região de Donetsk, a leste da Ucrânia, onde as tropas de Moscovo vêm avançando há meses.

Zelensky voltou a acusar a Rússia de ter atacado com um drone, na sexta-feira, a usina nuclear de Chernobyl, um ato que, segundo o próprio, demonstra que a Rússia "não quer a paz".

Vance disse, por sua vez, que o seu país está disposto a pressionar a Rússia para que ponha fim ao conflito iniciado com a invasão da Ucrânia, há quase três anos, e assegurou aos europeus que "logicamente" farão parte das negociações.

No entanto, também lembrou que as potências europeias terão que assumir maiores responsabilidades na NATO para dividir o peso da defesa do continente.

Trump pressiona os países europeus membros da NATO a elevarem os seus gastos com a Defesa até 5% de seus respectivos PIBs, uma meta que se anuncia longínqua e difícil de alcançar para a maioria.