“A Trichilogaster acaciaelongifoliae é uma pequena vespa nativa da Austrália, que atua depositando ovos nos botões florais e vegetativos da acácia-de-espigas, formando galhas que interrompem a sua capacidade de reprodução e dispersão de sementes e crescimento, respetivamente”, explicou Francisco López-Núñez, investigador do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), que liderou o estudo, citado numa nota de imprensa.

O investigador acrescentou que “após extensivos testes de especificidade, este agente de controlo biológico foi selecionado e libertado em 2015 em vários locais do litoral português”.

“Três anos após a introdução deste agente de controlo biológico, a equipa de investigadores da FCTUC e do Instituto Politécnico de Coimbra demonstrou, através de análise de redes tróficas complexas, que este inseto altamente especializado não causou impactes negativos, diretos ou indiretos, em espécies não-alvo”, lê-se no comunicado enviado à agência Lusa.

A investigação incluiu a análise e identificação de "154 espécies de plantas, cerca de 45 mil galhas e 11 mil insetos no litoral centro de Portugal, assim como a construção e análise de redes tróficas complexas entre plantas, galhas e parasitoides".

Segundo a Universidade de Coimbra, os resultados evidenciam que, quando devidamente planeado e monitorizado, o controlo biológico pode ser uma estratégia segura e eficaz para ajudar a restaurar ecossistemas invadidos, com impacte mínimo sobre a biodiversidade nativa.

“A ausência de efeitos não desejados sobre outras plantas e insetos nativos é um sinal muito promissor. Este é um passo pioneiro na Península Ibérica e muito importante para aumentar a confiança no uso sustentável do controlo biológico na conservação da natureza”, adiantou Francisco López-Núñez.

O investigador sublinhou que este estudo “reforça a importância da monitorização a longo prazo e demonstra que é possível avaliar detalhadamente as interações ecológicas geradas por agentes de controlo biológico”.

O estudo está publicado na revista Restoration Ecology e representa um marco no rigor do acompanhamento pós-libertação de agentes de controlo biológico.