“Falei com o Presidente da República na segunda-feira, enviei o pedido de reunião na quarta-feira - porque tive que articular a minha posição com o Sindel [Sindicato Nacional da Indústria e da Energia], que é o nosso sindicato - e na quinta-feira recebemos a resposta da Autoeuropa com reunião marcada para dia 22 de fevereiro, da parte da manhã”, adiantou o líder da central sindical.
Em declarações aos jornalistas no Porto, à margem de uma conferência sobre 'O Futuro da ADSE', Carlos Silva salientou que a posição da UGT “é garantir que o acervo de direitos dos trabalhadores, de uma vez por todas, fique elencado num contrato coletivo de trabalho, neste caso um acordo de empresa”, que também assegure a “paz social” e a “estabilidade” na Autoeuropa.
Salientando que, em Portugal, “os acordos de empresa são negociados em exclusividade pelos sindicatos” e que “todas as empresas estão obrigadas a cumprir que qualquer contratação coletiva é emanada dos sindicatos e das administrações”, o líder da UGT questiona: “Porque é que a Autoeuropa não há de copiar exatamente o mesmo modelo?”.
“Valeu a pena esta espera e valeu a pena dar aos trabalhadores e à Comissão de Trabalhadores [CT] todas as condições para chegar ou não a acordo. Neste momento continua a não haver acordo, então é a nossa vez de tentarmos também resolver o problema e dirimir o conflito”, sustentou.
De acordo com Carlos Silva, o que a UGT pretende é “por água na fervura” numa situação de conflito gerada por uma “tentativa de assalto ao poder” após a saída de António Chora, que durante mais de 20 anos liderou a CT da Autoeuropa com um “carisma” que “garantiu a negociação entre a administração e a comissão de trabalhadores”.
“Há quem tente ultrapassar o princípio da estabilidade para garantir a luta pelo poder. Nunca aconteceu isto durante 20 e tal anos porque a CT era coesa e o líder era forte, [mas] quando as lideranças são fracas ou as pessoas não têm o carisma que teve o seu antecessor as coisas não correm bem”, disse.
Neste contexto, disse, a Autoeuropa aproveitou “o descalabro e este conflito entre os trabalhadores” para tentar “dividir para reinar” e “ganhar peso, impondo unilateralmente uma matéria que devia ter sido negociada”.
Segundo o líder da UGT, “a maioria dos trabalhadores da Autoeuropa querem o seu local de trabalho e a sua estabilidade, querem paz social e querem os salários”: “Não se importam de trabalhar ao sábado ou até ao domingo, porque está prevista na lei portuguesa a laboração contínua, querem é ser remunerados. Ora a Autoeuropa tem é que pagar em função daquilo que, efetivamente, os trabalhadores têm que prescindir da sua vida pessoal”, sustentou, recusando a pretensão da empresa de remunerar o trabalho ao fim de semana “como se fosse um dia útil”.
“A Autoeuropa é uma empresa de capital alemão que tem um grande pendor na economia portuguesa, que tem muitos postos de trabalho, e tem uma capacidade financeira e económica sobejamente forte para poder pagar bem”, considerou.
Desejando que o processo negocial na Autoeuropa “não se arraste muito no tempo”, mesmo que uma recusa da empresa em negociar um acordo coletivo venha a implicar a conciliação do Ministério do Trabalho, Carlos Silva salienta que “aquilo que a administração deverá perceber é que, da parte dos sindicatos da UGT, os contratos de trabalho mantêm a paz social e dão estabilidade”.
“Esperemos ter sucesso na Autoeuropa”, rematou.
Os trabalhadores da Autoeuropa começaram dia 29 de janeiro a cumprir o novo horário transitório que prevê a obrigatoriedade do trabalho ao sábado e que foi imposto administrativamente pela empresa após a rejeição dos acordos negociados previamente com a CT.
Apesar das garantias dadas pela empresa de que vai pagar os sábados com um acréscimo de 100% em relação ao que paga por um dia normal de trabalho, a CT e o sindicato mais representativo na empresa, o SITESUL - Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Sul, alegam que a Autoeuropa pretende pagar os sábados como um dia normal de trabalho e que isso será demonstrado nos recibos de vencimento de fevereiro.
A Autoeuropa deverá atingir este ano uma produção de 240.00 automóveis, a grande maioria do novo modelo T-Roc, veículo que o grupo alemão Volkswagen pretende construir apenas na fábrica de automóveis de Palmela e que está a ter muito boa aceitação no mercado.
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