“Obrigado Missão da Rússia da ONU pela vossa carta datada de 16 de março. Consulte as nossas edições sugeridas abaixo", escreveu a delegação do Canadá no Twitter, partilhando três páginas, repletas de anotações, sugestões e pedidos de explicação, redigidos a vermelho, de uma carta da diplomacia russa defendendo a resolução apresentada pela Rússia.
A carta original da Rússia começa com a frase: "Estou a entrar em contacto em relação a um assunto urgente relacionado com a terrível situação humanitária dentro e ao redor da Ucrânia". Na versão comentada da carta, a missão do Canadá incluiu no final da frase: "INSERIR: 'que nós causamos como resultado da nossa guerra e agressão ilegais'".
Nas cerca de 30 edições e sugestões feitas, as autoridades canadianas referem os bombardeamentos feitos pela Rússia a hospitais e maternidades ucranianas, os bloqueios a corredores humanitários, ataques a civis e referem-se ao projeto de resolução “humanitária” que a Rússia pretende apresentar como um documento "com zero lógica".
"Vocês acreditam que os membros da ONU realmente acreditam nisto?", refere outra anotação do Canadá.
A carta da Rússia pede aos países da ONU que deixem de lado as posições políticas para “fazer todos os esforços possíveis para minimizar as consequências humanitárias para a população civil na Ucrânia”. Mas, segundo o Canadá, esse pedido russo não faz sentido, uma vez que é a própria Rússia a atacar os mais vulneráveis.
A resolução garantiria passagem segura para países fora da Ucrânia, principalmente para pessoal médico e populações vulneráveis. “Comentário: Como explicam as forças russas a sitiar cidades, impedindo civis de fugir, recusando corredores humanitários e saqueando ajuda? Por favor explique", escreve o Canadá.
A delegação canadiana termina as suas anotações com um final alternativo e sarcástico à carta da Rússia: "Ao pedir que co-patrocinem esta resolução ridícula que apresentamos no Conselho de Segurança, (...) queremos que saibam, como pouco nos importamos com a vida humana que dizimamos na Ucrânia e quanto desdém temos por vocês, membros da ONU, e por toda esta instituição”.
O embaixador da Rússia nas Nações Unidas, Vasily Nebenzya, informou que não levará a votação esta sexta-feira a sua proposta de resolução "humanitária" sobre a Ucrânia, um projeto que, segundo diplomatas, estava já "condenado".
"Decidimos, nesta fase, não pedir uma votação sobre o nosso projeto, mas não estamos a retirar o projeto de resolução”, indicou o embaixador russo em declarações no Conselho de Segurança da ONU.
Na mesma ocasião, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse ter "ficado momentaneamente satisfeita" ao saber que os russos retiraram de votação a "sua ridícula resolução humanitária, que estava condenada ao fracasso".
A resolução “humanitária” sobre a Ucrânia elaborada pela Rússia foi vista por vários diplomatas como uma "hipocrisia", tendo em conta que foi a própria Rússia a causar "esta guerra ilegal", e pela falta de apoio o projeto estaria condenado ao fracasso.
O embaixador albanês, Ferit Hoxha, afirmou que a resolução russa é da "maior hipocrisia, do tamanho da Rússia", e "deveria estar no livro de recordes do Guinness".
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