No debate sobre a Ucrânia, no plenário da Assembleia da República, o PCP lamentou o conflito, mas continuou a classificá-lo de "intervenção militar".
O debate aqueceu quando o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, disse que se lembrava do líder do Chega, André Ventura, “de mão dada com Marine Le Pen, quando ela andava de mão dada com Putin, e abraçado com Matteo Salvini, quando ele andava abraçado com Putin”.
“Não, não esquecemos quem anda de mão dada com extremismos, imperialismos e nacionalismos, esses sentam-se na extrema-direita do parlamento português”, acusou.
Na mesma linha, o deputado único do Livre, Rui Tavares, disse querer deixar uma mensagem para fora do parlamento.
“Se és anti-imperialista, Putin é teu inimigo, se és anticolonialista, Putin é teu inimigo. Se és antipopulista, antidemagogo e antiautoritário, Putin é o teu inimigo”, afirmou, dizendo que as forças políticas da candidata presidencial da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, e do italiano Salvini foram financiadas pelo regime de Putin.
Na resposta, Ventura disse que não foram Le Pen nem Salvini quem criticou as sanções à Rússia ou o envio de armas à Ucrânia, mas os espanhóis do Podemos, associando-os ao Livre, o que foi imediatamente negado por Rui Tavares, que fez questão de salientar que a sua família política é a dos Verdes europeus.
“Eu sei bem qual é a sua família política, é a que nunca consegue ver as ditaduras de esquerda, mas consegue ver as de direita”, ripostou Ventura, deixando um apelo a "algumas forças políticas" relativamente à sessão solene de boas-vindas ao presidente da Ucrânia, no próximo dia 21.
"O melhor que faziam era não estar presentes, só vão envergonhar o parlamento", disse.
O vice-presidente da bancada do PSD Ricardo Baptista Leite pediu a palavra para lamentar esta troca de argumentos “entre a extrema-esquerda e a extrema-direita para ver quem tem os piores ditadores”.
“Não é esta a mensagem que deve passar desta Assembleia”, sustentou Baptista Leite.
No início do debate, numa espécie de 'recado' aos deputados comunistas, o socialista Francisco César defendeu que “não pode haver dúvidas de espécie alguma” sobre o conflito na Ucrânia.
“Da nossa parte queremos que fique absolutamente clara a nossa posição: não há totalitarismos melhores que outros, não há regimes opressivos mais toleráveis ou aceitáveis, sejam de direita ou de esquerda, um ditador é sempre um ditador, um tirano é sempre um tirano e uma invasão é uma declaração de guerra, e não uma operação militar especial”, vincou.
A líder parlamentar do PCP, Paula Santos – que durante a sua intervenção ouviu apupos de várias bancadas e até expressões como “o muro já caiu” - insistiu na rejeição do “caminho da escalada militarista, do envio de cada vez mais sofisticado material militar e da imposição de sanções”, sustentando que “esse é o caminho de quem defende a guerra”.
“Por mais que sejam as pressões para repetir em coro o discurso da escalada da guerra que é hoje imposto como pensamento único, o PCP continuará firmemente a defender a paz tal como tem estado desde 2014. Por isso, o PCP condena todo o caminho de ingerência, violência e confrontação o golpe de estado de 2014 promovido pelos EUA na Ucrânia, que instaurou um poder xenófobo e belicista, a recente intervenção militar da Rússia na Ucrânia e a intensificação da escalada belicista dos EUA, da NATO e da UE", defendeu.
Pelo PSD, Tiago Moreira de Sá reiterou a “condenação vigorosa” da invasão da Ucrânia e, tal como tinha feito ao início da tarde o líder parlamentar do PSD, defendeu um agravamento das sanções à Rússia.
“Não podemos ficar a meio da ponte. A manutenção de sanções parciais apenas contribui para prolongar a guerra. É urgente levar as sanções às suas últimas consequências, atingindo o regime de Putin no seu núcleo duro político e atingindo a sua economia na sua espinha dorsal - o petróleo e o gás”, argumentou.
Também a IL, pela voz da deputada Joana Cordeiro, defendeu “sanções drásticas” à Rússia, “com o fim da compra de petróleo e gás”.
“Existem no Ocidente países, partidos políticos e pessoas que ativamente ou de forma dissimulada, apoiam o regime de Putin. o apoio explícito ou a neutralidade cobarde beneficiam o agressor (…) O que estes idiotas úteis ao serviço de Moscovo não percebem é que amanhã, também eles, poderão ser esmagados pelo poder que defendem”, considerou.
Pelo PAN, a deputada única Inês Sousa Real defendeu que "mais do que gestos diplomáticos" é necessário que Portugal perdoe a dívida pública da Ucrânia.
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