“Eu vou defender a extensão sobre a qual escrevi a Donald Tusk [presidente do Conselho Europeu] na semana passada e que foi apoiada pelo parlamento na noite passada”, afirmou Theresa May, em resposta a uma pergunta do deputado conservador eurocético Henry Smith, que defende uma saída sem acordo.
May acrescentou que o país já podia estar fora da União Europeia (UE) se o parlamento tivesse aprovado o Acordo de Saída, negociado pelo Governo com Bruxelas mas chumbado três vezes pelos deputados britânicos, forçando o Governo a adiar a data de saída, inicialmente prevista para 29 de março, para 12 de abril, data aceite por Bruxelas após um primeiro pedido de adiamento feito por Londres.
Mantendo a intenção de honrar o resultado do referendo de 2016, a primeira-ministra reiterou a determinação em fazer o país sair da UE, mas de uma forma ordenada, através de um acordo de saída.
“Eu continuo a trabalhar para garantir que podemos concretizar o ‘Brexit’ e que o podemos fazer de uma forma que seja favorável para as pessoas em todo o país”, vincou a chefe do Governo.
Pela primeira vez em muitos meses, o processo de saída do Reino Unido da UE não dominou o debate semanal na Câmara dos Comuns nem foi levantado pelo líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, que pressionou a primeira-ministra sobre a questão da pobreza no país.
“À medida que continuamos em discussões sobre um acordo para o ‘Brexit’ que possa moldar a nossa futura relação económica com a Europa, protegendo postos de trabalho e a nossa economia, não devemos esquecer as comunidades em todo o país que foram abandonadas por este governo”, acusou o líder trabalhista.
Representantes do governo e do principal partido da oposição iniciaram negociações há uma semana para chegar a um entendimento sobre a forma de saída do Reino Unido da UE, e têm previstos novos encontros hoje, mas até agora não chegaram a um consenso.
Quem não evitou o “tema quente” foi o líder do Partido Nacionalista Escocês, Ian Blackford, que questionou May sobre se, nas negociações com o ‘Labour’, o Governo ofereceu realizar um novo referendo sobre o ‘Brexit’.
“A minha posição sobre o segundo referendo é a posição do governo e não mudou. A Câmara rejeitou um segundo referendo duas vezes. Agora, quando chegarmos a um acordo, teremos que garantir que a legislação passa, e é óbvio que podem existir pessoas que queiram insistir nessa questão”, respondeu a primeira-ministra.
Theresa May viaja hoje para a capital belga para participar num Conselho Europeu de emergência, onde vai pedir um novo adiamento do ‘Brexit’, mas apenas até ao final de junho, reiterando o desejo de evitar a participação nas eleições europeias de maio.
Porém, na carta-convite dirigida aos líderes da UE, Donald Tusk sustenta que, “pela experiência até ao momento, e atendendo às divisões profundas na Câmara dos Comuns”, há “poucas razões para acreditar que o processo pode ser concluído até ao final de junho”, razão pela qual se opõe ao prazo de 30 de junho e defende em alternativa uma extensão longa, no máximo de um ano.
Na noite de terça-feira, o parlamento britânico aprovou uma lei que obriga a primeira-ministra a pedir um adiamento do ‘Brexit’, apesar do voto contra de 97 deputados conservadores e da abstenção de outros 80, incluindo os membros do Governo Andrea Leadsom, Geoffrey Cox, Liam Fox e Chris Grayling, refletindo a intensa oposição do próprio partido no poder à estratégia de Theresa May.
Um ultra eurocético, Bill Cash, divulgou hoje uma carta enviada a Donald Tusk onde escreve que pretende avançar com um processo nos tribunais se os líderes europeus aceitarem adiar a data de saída para além de sexta-feira, alegando que será ilegal.
“Qualquer decisão da primeira-ministra em aceitar uma extensão longa do artigo 50.º é provável que seja contestada nos tribunais do Reino Unido”, avisou.
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