Em declarações à agência Lusa, no final de uma reunião com o autarca de Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco, sobre a poluição do Tejo e os riscos da central nuclear espanhola de Almaraz, José Inácio Faria disse que a verdade é que os espanhóis não ligam nada para as questões transfronteiriças e para o que possa acontecer em Portugal.

"Fazem o seu trabalho lá [Espanha], aquilo que acham que devem ou não fazer e, depois, o resto, não lhes interessa, porque vai cair ao esgoto. Ora, nós não somos esgoto. Portugal e os portugueses não são o esgoto de Espanha e não podem ser", afirmou.

Neste sentido, o eurodeputado português defende que o Governo tem que agir de uma forma mais "impulsiva e enérgica" e adianta que "as medidas diplomáticas servem para o que servem".

"Quando recebemos aqui esta água, ela já vem totalmente poluída, porque já atravessou 70% do território espanhol, com tudo aquilo que se possa imaginar que tenha sido lançado lá. E passa por Almaraz e também apanhamos aqui tudo aquilo que é lançado ao Tejo e nós não temos tido o cuidado de monitorizar devidamente a água que recebemos e a que é utilizada no caudal português", frisou.

Por isso, entende que é preciso chamar a atenção para as entidades competentes, de forma que haja uma maior monitorização das águas do rio Tejo.

José Inácio Faria reafirma que o Governo português deve ser mais enérgico nas questões que dizem respeito à poluição do rio Tejo e também em relação à central nuclear de Almaraz e sublinha que, nestes assuntos, o Ministério do Ambiente tem um "peso acrescido".

"O que acontece é que tem de haver uma clarificação, sim, por parte da política ambiental deste Governo, e eu penso que as pessoas não sabem muito bem o que se anda a passar e dá-me a impressão que o ministro [Ambiente] também não sabe o que se anda a passar por este país fora", sustentou.

O eurodeputado do MPT adianta que a população portuguesa "não é parva" e anda a sentir há muito tempo, a contestar e a reagir a estas situações e saúda o trabalho que os movimentos cívicos têm feito.

"Parece que este Governo vai a reboque destes movimentos cívicos, quando devia ser ao contrário", concluiu.

Sobre a reunião com o autarca de Vila Velha de Ródão Luís Pereira, o eurodeputado disse que esta foi solicitada por ele próprio e que foi uma conversa "muito cordial e muito interessante".

"Eu disse ao presidente que compreendia a posição dele, que não é cómoda e que tem que conjugar todas as sinergias da zona e, obviamente, também da economia. E a posição do MPT não é matar a indústria, nós precisamos da indústria. Temos é que coabitar sustentavelmente e essa também é a preocupação do presidente, que tem feito um bom trabalho", sublinhou.