“O setor da energia não pode viver de medidas avulsas. Há que planear, há que analisar as consequências do que acontece. Que nós estamos a sofrer com as alterações climáticas eu não tenho dúvidas. […] É preciso armazenar água para poder disponibilizá-la quando ela faz falta […] e não é, necessariamente, para fazer hidroeletricidade”, afirmou o responsável da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN).
Conforme indica Sá da Costa, devido às alterações climáticas, Portugal vai passar a ter menos precipitação e ela vai decorrer de forma irregular, o que faz com que “mais água vá diretamente para o oceano sem ser aproveitada”.
Reagindo à recomendação de Bruxelas para que seja avaliada “a vulnerabilidade e os riscos climáticos das barragens” e aponte para outras fontes de energia face às projeções do clima, o responsável da APREN vincou que deve ser Portugal a escolher a tecnologia que quer utilizar e não deixar “ao livre arbítrio dos interessados”.
“Não podemos ter eletricidade em Portugal 100% solar fotovoltaica porque é muito barata e quando chegamos ao inverno não temos sol que chegue e à noite também não há sol. Portanto, terá de haver um planeamento. Tanto quanto sei, isso não está a ser feito a nível governamental”, notou.
A recomendação consta da resposta – a que a Lusa teve acesso - enviada pela comissária europeia para a Política Regional, Corina Cretu, ao eurodeputado Fernando Ruas (PSD), que a tinha questionado sobre possíveis apoios a Portugal no combate aos efeitos da seca.
“Até ao presente, as autoridades portuguesas ainda não solicitaram qualquer apoio em relação às secas”, escreveu, numa carta datada de 8 de dezembro de 2017, mas que só hoje chegou ao eurodeputado.
Corina Cretu alertou que “as projeções climáticas para Portugal indicam uma diminuição da precipitação ao longo do tempo em muitos locais”, acrescentando que “poderá ser pertinente realizar uma avaliação da vulnerabilidade e dos riscos climáticos das barragens e dos setores em causa”.
Para a comissária “a energia hidroelétrica, que é uma componente importante do pacote energético de Portugal, poderá ser negativamente afetada, o que mereceria uma reflexão sobre a transição gradual para outras fontes de energia renováveis”.
Segundo António Sá da Costa, Portugal necessita de um Gabinete de Planeamento Energético, para analisar o que acontece no setor, fazer análises “de sensibilidade e vulnerabilidade” e criar medidas para minimizar os impactos.
“Portugal já teve há mais de 30 anos, um Gabinete de Planeamento Energético. [Esse gabinete], permitiria que se fizessem expansões na rede de transporte e distribuição, que permitissem uma gradual substituição [da energia hidroelétrica]. O que nós vemos, hoje em dia, é que não há pontos de ligação para novas centrais, na quantidade que deveria haver para as substituir, quer nas centrais fósseis que existem, quer para prevenir esta questão de diminuição de produção hidroelétrica”, concluiu.
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