“Estamos numa fase complicada devido à falta de água e depois há o problema da alimentação dos animais. Há falta de feno e de palha, muita da palha vinha de Espanha e este ano os espanhóis estão com o mesmo problema, e, portanto, está a ser problemático. Aliás muitos dos associados estão a desfazer-se dos animais porque não têm forma de os alimentar. Mais de 50% estão a reduzir o seu efetivo e 20% acabaram mesmo com os rebanhos de pequenos ruminantes, de ovelhas e cabras”, afirmou João Morais, em declarações à Lusa.
O diretor da Associação dos Agricultores e Pastores do Norte (APT) refere que esta opção tem sido tomada mesmo por agricultores com “alguma capacidade financeira” perante o aumento dos custos da alimentação.
“Apesar de estarem a conseguir escoar o produto e de, no caso dos bovinos, ter havido até um ligeiro aumento de preço, esse aumento não compensa a parte alimentar, dado que as rações aumentaram quase para o triplo”, explicou.
No que concerne aos cereais, João Morais aponta como principal preocupação a crescente população de javalis e de corsos, problema para o qual, apesar dos vários apelos, ainda não foi encontrada uma solução eficaz.
“A cultura do milho já pouco se faz em Trás-os-Montes e uma das principais causas são os ataques de javalis. Tem sido um absurdo, nomeadamente no distrito de Vila Real onde tem havido muitos, tanto na cultura do milho, como mesmo no feno”, revelou.
Apresentado em maio, o Plano Estratégico e de Ação do Javali, promovido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, concluiu que Portugal tem uma sobrepopulação de javalis — entre os 300 mil e os 400 mil exemplares — que é necessário reduzir para mitigar prejuízos na agricultura e a ocorrência de acidentes rodoviários.
Em julho, a Anpromis — Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo revelou que os prejuízos provocados por javalis na cultura do milho atingiram, no ano passado, oito milhões de euros.
Neste momento, refere João Morais, a situação dos agricultores é ainda mais grave do que em 2022, com as contas a refletirem a “especulação” de preços decorrente da guerra da Ucrânia e do embargo aos cereais.
“Já chegámos por diversas vezes à conclusão de que quem está na agricultura tem de pagar para trabalhar”, disse, lembrando que os subsídios atribuídos servem apenas para que o valor final do produto seja mais baixo, não compensando os aumentos dos custos de produção”.
Em 12 de agosto, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em declarações à Lusa, tinha já alertado para a “situação de sufoco” em que se encontram muitas explorações pecuárias em Portugal, em face à seca prolongada, lamentando a ausência de “medidas eficazes” para mitigar o impacto deste problema para o setor.
Na altura, a confederação alertava ainda que o preço das rações de animais, também se mantém muito elevado, deixando muitas explorações pecuárias em “situação de sufoco”, sendo que várias “poderão não resistir” a mais um ano consecutivo de seca.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), a colheita de cereais para grão foi a pior de sempre para todas as espécies, num ano agrícola novamente marcado pela seca que atinge 96,9% do território do Continente.
De acordo com o mesmo documento divulgado em 18 de agosto, a “escassa produção de matéria verde para o pastoreio” levou a uma antecipação da suplementação da pecuária em regime extensivo, recorrendo a alimentos conservados.
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