Durante o seminário “A Agricultura do Algarve a falar sobre… água”, realizado em Faro, com a presença do secretário de Estado da Agricultura, Gonçalo Rodrigues, vários representantes de associações de produtores regionais reforçaram que, se não forem criadas mais alternativas, os problemas no setor vão agravar-se.
Macário Correia, antigo autarca de Tavira e Faro e atual presidente da Associação dos Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento Algarvio, recordou já ter participado “em centenas de reuniões para falar do mesmo assunto”, lamentando que ninguém tenha tomado “decisão nenhuma” até agora.
Depois da conclusão da barragem de Odelouca, no barlavento (oeste) algarvio, em 2009, “a seca acentuou-se” na região “e ninguém armazenou nem mais um litro”, referiu, pedindo ao Governo: “resolvam a questão do Pomarão e tomem uma decisão sobre a Foupana”.
Diversas autoridades algarvias têm reclamado, nos últimos anos, a ligação entre o rio Guadiana e a barragem de Odeleite, através de uma conduta junto ao Pomarão, no concelho de Mértola, distrito de Beja, e a construção de uma barragem na ribeira da Foupana, um afluente do rio Guadiana.
Macário Correia alertou que “a produção de frutas e legumes” na Campina de Faro, no Algarve central, “está em risco, porque os lençóis [freáticos] estão em baixo”, acrescentando que a Foupana seria essencial para resolver esse problema.
José Oliveira, da AlgarOrange — Associação de Operadores de Citrinos do Algarve, abordou o mesmo tema, defendendo a implementação de um perímetro de rega no Algarve central, que só será viável “se houver novas possibilidades de captação de água”.
“Na zona do Algarve que vai do Algoz [concelho de Silves] até Olhão, rega exclusivamente das águas subterrâneas. Se os níveis forem por aí abaixo, para não dizer se houver problemas de intrusão salina, toda esta zona fica sem solução”, avisou.
Já no barlavento, muitos dos pomares “não vão ter hipóteses de sobrevivência” e “já são sentidas dificuldades em muitos furos”, além de que a água das barragens “já está fora de questão, [pois] uma está fora do sistema [Bravura] e outra com água racionada [Arade]”, apontou José Oliveira.
O dirigente salientou que “a citricultura está posta perante um dilema” e que os investimentos previstos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que só terão efeito completo dentro de quatro anos, não vão aumentar a quantidade de água para a agricultura.
“As soluções dentro do PRR, a central dessalinizadora e as águas residuais [tratadas], para a agricultura, se não chover, não vão ter consequência nenhuma. As águas da dessalinizadora vão para o setor hoteleiro e as águas das ETAR [Estação de Tratamento de Águas Residuais] vão para os golfes. A agricultura fica sem água”, notou, antevendo “problemas críticos, muito graves” caso não chova “substancialmente” na região nos próximos dois anos.
A falta de bacias de retenção de água em afluentes como a ribeira de Quarteira e a ribeira do Vascão também foi criticada pelos representantes das associações de produtores, que reforçaram a necessidade de mais pequenas barragens e açudes para canalizar água para as culturas agrícolas.
O secretário de Estado da Agricultura, Gonçalo Rodrigues, que na sessão de abertura do seminário disse querer ouvir os “queixumes” dos agricultores, acrescentou à Lusa que “as preocupações têm de ser todas ouvidas, para depois, de uma forma conjunta e integrada”, serem delineadas “as soluções possíveis” face aos constrangimentos conhecidos.
“Sabemos que o tempo é curto, porque o clima não perdoa e tudo aquilo que possa ser uma intervenção nem sempre é apenas no curto prazo”, reconheceu.
O governante pediu um “diálogo muito concreto e apertado”, que permita chegar às medidas de investimento ou instrumentos de apoio para mitigar os problemas, e aos produtores que “continuem a ser cada vez mais eficientes no uso da água e encontrem soluções alternativas para serem mais sustentáveis”.
A ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes, anunciou, em 08 de maio, ter assinado o despacho que reconhece a situação de seca severa e extrema em 40% do território nacional, no Sul do país.
Em 10 de maio, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) divulgou que a situação de seca meteorológica se agravou em Portugal continental no mês de abril, estando 89% deste território em seca, 34% da qual em seca severa e extrema.
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