Esta IV Conferência Nacional, que se realiza sábado durante todo o dia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, foi convocada pela Mesa Nacional do BE do início de fevereiro, que analisou os resultados eleitorais do partido nas legislativas antecipadas, nas quais falhou os seus objetivos, deixou de ser a terceira força política, perdeu metade dos votos e ficou reduzido a cinco deputados.
Sob o lema “Bloco de Esquerda: Justo, Solidário, Insubmisso”, a discussão do rumo estratégico do partido será feita ao longo do dia à porta fechada, sendo apenas aberta à comunicação social a sessão de encerramento, que será feita pela coordenadora do BE, Catarina Martins, pelas 17:30.
Em discussão estarão três propostas globais, a da Comissão Política, intitulada “Defender o povo em tempo de guerra e de inflação”, e duas alternativas.
A proposta global da Comissão Política — cujos primeiros tópicos foram noticiados pela agência Lusa em meados de março — é dividida em seis grandes temas, desde a guerra na Ucrânia à oposição ao PS depois da geringonça, passando pelas respostas ao aumento do custo de vida e da organização interna do partido.
No capítulo “Da geringonça à oposição, sem arrependimentos”, o BE reitera que teve “razões substanciais” para votar contra o Orçamentos do Estado “que refletiam a recusa do PS de verdadeira negociação à esquerda”.
Na análise que é feita pela Comissão Política, “uma parte do eleitorado” do BE de 2015 e 2019 “deslocou-se para o centro e engrossou a maioria absoluta do PS”, admitindo que uma parte desses eleitores “terá responsabilizado o Bloco pela queda do governo” e uma outra “terá cedido à pressão criada pelas sondagens que anunciavam uma iminente maioria de direita e extrema-direita”.
Para os bloquistas, as eleições de 30 de janeiro confirmam o “perigo permanente” da redução do espaço público ao círculo vicioso do “ressentimento social e do medo político”.
“Estas dinâmicas alimentam-se mutuamente, favorecendo, respetivamente, o crescimento do CH [Chega] e o poder absoluto do PS, que não carece de boa governação para se apresentar como fator de contenção do fascismo”, avisa.
Neste documento, o BE propõe medidas de emergência de resposta ao aumento do custo de vida como o aumento imediato do salário mínimo para 800 euros, a atualização geral dos salários e das pensões à taxa de inflação, o controlo de preços, com limitação das margens da grande distribuição alimentar e de combustíveis, a tributação dos lucros extraordinários do setor energético, o Congelamento das rendas e o reforço dos apoios sociais.
Nas questões internas, a direção bloquista refere que a “redução significativa da subvenção pública” resultará numa “estrutura menor”, defendendo que o BE “deve reforçar-se com novos mecanismos de autofinanciamento e campanhas para novas adesões”.
Apesar destas alterações a que o mau resultado eleitoral obriga, os bloquistas querem que seja garantida “uma atividade partidária e social de alta intensidade” e a preparação do próximo ciclo eleitoral.
“Para a melhor compreensão e sucesso destes objetivos, o Bloco promoverá, no âmbito distrital e regional, novas assembleias e debates que envolvam o maior número possível de aderentes sobre esses aspetos”, refere.
Como noticiado na quinta-feira pela Lusa, os críticos da atual direção liderada por Catarina Martins consideram que não retirar consequências dos maus resultados eleitorais do partido é uma “arrogância política inadmissível”, condenando a linha política “incoerente e ziguezagueante” e a recusa em antecipar a Convenção Nacional.
O histórico Mário Tomé e os ex-deputados Pedro Soares e Carlos Matias estão entre os subscritores desta proposta global alternativa, subscrita por vários membros do movimento Convergência, entre outros, intitulada “Unir o Bloco para mudar de rumo e recomeçar de novo”, uma alusão ao manifesto fundador do BE então batizado “Começar de novo”.
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