Com o apoio do ainda presidente da IL, o deputado e dirigente Rui Rocha vai disputar a liderança do partido com Carla Castro (com quem partilha a bancada parlamentar e a atual comissão executiva) e com o conselheiro nacional José Cardoso, uma decisão dos membros liberais que será tomada na convenção eletiva antecipada do próximo fim de semana em Lisboa.
Comprometendo-se a, caso seja eleito, fazer dois mandatos, ou seja quatro anos, para “cumprir um ciclo eleitoral completo”, Rui Rocha estabeleceu na moção de estratégia a meta dos 15% nas próximas eleições legislativas, caso estas se realizem em 2026, como previsto.
Em entrevista à agência Lusa, o liberal, que se assume como “uma pessoa combativa”, admite que é um objetivo “ambicioso”, um “desafio para o partido” e que também “tem risco”, ressalvando que a IL só conseguirá “transformar o país” se tiver “uma expressão eleitoral que permita romper com o bipartidarismo que está instalado em Portugal”.
Sobre a disputa interna, o liberal antecipa uma convenção que será um “espetáculo político muito interessante e muito rico” para o partido, defendendo que, “no dia seguinte, ganhe quem ganhar, há muito trabalho para fazer”.
“Do ponto de vista do resultado da eleição, eu espero ganhar e confio no sentido crítico dos membros do partido porque esse apoio do João Cotrim Figueiredo interpreto como algo foi feito na altura, virado para fora, para que não houvesse a perceção fora do partido que podia haver algum tipo de vazio de poder”, responde, quando questionado sobre as críticas dos opositores sobre este apoio imediato.
Para Rui Rocha, o ainda presidente quis “preservar o partido do ponto de vista externo”.
“Do ponto de vista interno, os membros são críticos, são pessoas maduras, fazem as suas opções”, afirma, reiterando que o calendário eleitoral foi alargado para dar possibilidade a todos quantos quisessem avançar.
Sobre o futuro do ainda presidente liberal, o candidato garante que será “sempre bem-vindo, em qualquer área e em qualquer momento” e admite que “será sempre um bom candidato para qualquer tipo de eleição”, respondendo que não houve nenhuma conversa, compromisso ou discussão sobre uma eventual candidatura de Cotrim Figueiredo, por exemplo, às próximas eleições europeias.
A questão do acordo que o partido fez para a governação nos Açores entrou na campanha interna, tendo Rui Rocha referido que, como presidente da IL, qualquer acordo com o PSD terá um “caderno de encargos” que terá entre as condições, para além da visão do país, de que “não haja acordos paralelos do PSD com partidos extremistas”.
“Não creio que haja condições para haver um outro acordo sem que haja uma condição com o PSD de que não há um envolvimento do PSD com forças extremistas, seja na Madeira, seja nos Açores ou seja no Continente”, enfatiza, assegurando que o acordo em vigor nos Açores é para cumprir e enaltecendo o trabalho do deputado liberal.
Esta decisão de não entrar futuramente “em acordos ou em combinações que envolvam o Chega” acontece por “motivos óbvios”, segundo Rui Rocha, destacando a posição da IL sobre a dignidade do indivíduo e a visão de sociedade e de economia, que “é completamente divergente” da do partido de André Ventura.
Para o candidato liberal, sendo a posição da IL “muito clara”, é preciso perguntar ao PSD “qual é sua posição relativamente ao Chega” porque esta “não está esclarecida”.
“O PSD nunca foi claro relativamente a isso com Rui Rio. Luís Montenegro está no poder já mais de seis meses, e não há uma posição clara. O PSD tem que ter um contributo democrático de clarificação da sua posição. A bola está do lado do PSD relativamente a esse caso”, defende.
Mas também ao partido de Ventura é preciso perguntar, na opinião de Rui Rocha, se, estando fora de qualquer solução ou qualquer geometria, prefere “viabilizar soluções do PS” ou “soluções com algum tipo de entendimento entre a IL e o PSD”.
Rui Rocha quer Costa irritado com os liberais e diz que já não vê um Governo
O candidato à liderança liberal Rui Rocha não vê “um Governo nesta altura”, mas “gente a tratar da sua vida” no PS e quer que António Costa continue “muito irritado” com a IL, acusando o PSD de “falta de comparência”.
Rui Rocha é muito crítico do PS e de António Costa, acusa o PSD de “falta de comparência” na oposição e, sem querer “entrar em nenhum tipo de guerrilha institucional”, reitera as críticas deixadas na moção à intervenção do Presidente da República.
Para o candidato a líder liberal, é preciso “um partido forte, robusto e ágil para fazer o combate político” porque aquilo que “de facto irrita o primeiro-ministro, António Costa”, são as ideias, as propostas e “capacidade de desafiar e de fazer oposição inteligente” da IL.
“Nós queremos liderar a oposição, queremos que António Costa continue a estar muito irritado com a Iniciativa Liberal, afirma, considerando, no entanto, que a forma com que o primeiro-ministro se refere aos liberais contribui “para degradar o debate político” e “não são expressões adequadas” de um chefe de executivo.
Considerando que a IL “é a única força política neste momento que apresenta, de facto, uma proposta de sociedade e de economia completamente diferente”, Rui Rocha não consegue ver estratégia subjacente “a um Governo em implosão”.
“Vejo uma tentativa de ir gerindo como se pode, gerindo as crises internas. Na verdade, já não vejo propriamente um Governo nesta altura”, atira.
À pergunta sobre o que é que vê então, o liberal é perentório: “Vejo sobretudo gente a tratar da sua vida. Vejo as lutas internas do PS, as agendas internas do PS a sobreporem-se a qualquer visão para o país e qualquer capacidade de governação”.
Para Rui Rocha, a IL lidera a oposição, desde logo por “falta de comparência” do PSD, que “já assumiu que durante o ano 2023 está com falta de comparência na oposição” e que se vai “preparar para 2024”.
“O que eu espero é que o PSD esteja, em algum momento, também em condições de fazer o seu trabalho de casa como a Iniciativa Liberal fará seguramente”, desafia, assegurando que a IL continuará o seu caminho sem olhar para “o lado nem para trás”.
Questionado sobre as críticas deixadas na moção de estratégia a Marcelo Rebelo de Sousa – é “conivente com a degradação das instituições democráticas” - o candidato a presidente da IL deixa claro que não quer “entrar em nenhum tipo de guerrilha institucional” com a Presidência da República.
Apesar de parecer que “há agora uma evolução da posição”, para Rui Rocha, o Presidente da República teve ao longo dos anos “uma intervenção no debate político que não ajudou a credibilizar as instituições” porque “interveio em alturas em que eventualmente não devia” e se pronunciou sobre temas que valorizam “pouco a própria função presidencial”.
“E, por outro lado, em algumas circunstâncias, talvez devesse ter, não publicamente, não estou a falar de intervenções públicas, mas com o seu magistério de influência, deveria ter traçado algumas linhas ao primeiro-ministro que não deveriam ter sido ultrapassadas”, critica.
Sendo o chefe de Estado “um ator muito importante no cenário político”, Rui Rocha entende que “deveria ser claro na moção de estratégia” porque é importante que “os membros conheçam a visão do candidato a presidente do partido relativamente não só a parte interna, mas também a tudo aquilo que é o cenário político”.
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