Rui Rio e André Silva enfrentaram-se hoje na RTP, num debate no âmbito das eleições legislativas de 06 de outubro muito centrado nas questões ambientais e que ficou marcado pela troca de várias acusações entre os dois.
Nesta que foi também a primeira vez que se encontraram, o presidente do PSD começou por dizer que a ideia que tem do PAN “é a ideia que têm todos os portugueses, que é um partido muito aguerrido numa área, que é a área da defesa dos direitos dos animais, menos aguerrido mas ainda assim vocacionado para a área do ambiente, mas depois naturalmente é um partido pequeno, ainda está a nascer, falta-lhe depois o resto da componente para lá disto”.
“Se crescer há de aparecer, mas neste momento é um partido de nicho que consegue os votos de muita gente descontente com o sistema”, acrescentou.
Quando o tema foram os direitos dos animais, Rui Rio considerou que o PAN “tem uma visão fundamentalista destas questões”.
“O que nós não somos é fundamentalistas, isso é que não, isto aqui é uma distinção muito grande entre o PAN e o PSD. Diria mesmo gigantesca”, apontou.
Considerando que é preciso "ter bom senso", o presidente do PSD comentou diretamente uma das medidas do opositor, questinando: "vou gastar dinheiro no Serviço Nacional de Saúde, entre aspas, dos animais quando tenho o Serviço Nacional de Saúde português, para as pessoas, a funcionar como está a funcionar? Não acho equilibrado".
Por seu turno, o porta-voz do PAN, André Silva, considerou que “o PSD há muito tempo que deixou de ser social-democrata, deslocou-se bastante para a sua direita”.
“Rui Rio diz que não disputa eleitorado com o CDS, mas a perspetiva que os portugueses têm é de facto que há um vazio imenso político no campo do centro”, frisou o deputado único do Pessoas-Animais-Natureza, advogando que o PSD “está de facto bastante encostado aquilo que são as políticas do CDS”.
Ao longo do debate, foram diversas as vezes que André Silva referiu o programa eleitoral dos sociais-democratas, tendo assinalado que “o PSD não tem uma única proposta para a proteção animal” e também lhe falta “uma estratégia sólida para a descarbonização da economia”.
Numa comparação entre os dois programas eleitorais, o líder do PAN não quis dizer que são incompatíveis, mas apontou que “são muito diferentes” e o presidente do PSD vincou que o partido tem “uma visão muito combativa na área do ambiente” e “grandes tradições”, mas os sociais-democratas são “mais equilibrados, mais moderados”.
Questionado sobre possíveis entendimentos futuros, Rio disse estar disponível para conversar, mas que “dependeria muito daquilo que fossem as exigências do PAN justamente nesse nicho”.
“Penso que era difícil ser parceiro, mas lá conversar porque é que não se há de conversar”, acrescentou.
A meio do debate, os dois concordaram que se atravessa uma fase de emergência climática e que é necessário proteger o planeta para as gerações vindouras, divergindo em como o podem fazer: enquanto André Silva aposta na descarbonização da economia, Rui Rio diz não ser possível "pegar na economia, mudar a economia completamente", apontando que "seria pior a emenda que o soneto".
A troca de palavras subiu de tom quando Rio recordou o seu tempo na Juventude Social-Democrata e puxou das "tradições que o próprio PSD tem no ambiente". André Silva atirou que isso era "a 'ecologiazinha dos anos 80'", ao que o social-democrata respondeu que "o PAN ainda não era nascido, já o PSD andava nisto há muito tempo".
Quanto à nova solução aeroportuária do Montijo, o candidato do PSD pelo Porto sublinhou que no caso de o estudo de impacte ambiental e a discussão pública associada mostrarem que "o impacto é exagerado e não há medidas para o atenuar o suficiente, ou que saem caríssimas", a posição do partido é que "poderá ser avisado a reapreciação de Alcochete".
Já o PAN defende a solução de Beja, mas Rio salientou a distância face a Lisboa.
O frente-a-frente terminou com a confissão de Rui Rio de ter gasto adquirido uma caldeira nova “para emitir menos dióxido e monóxido de carbono” e a puxar do comprovativo da compra que tinha no bolso.
Também questionado sobre o que faz para ajudar o ambiente, André Silva afirmou que na sua vida pessoal deixou de comer carne nem qualquer produto de origem animal e que no dia-a-dia se desloca de transportes públicos.
(Notícia atualizada às 23h31)
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