“Para a frente é que é caminho”, diz-se, mas não há futuro possível sem lidar com as ações do passado. Nos dias que iniciam esta semana de outubro, será 2017 a correr nas bocas de toda a gente, por cá e do outro lado da fronteira.
Começando por “nuestros hermanos”, a justiça espanhola pronunciou-se hoje quanto ao futuro dos responsáveis políticos pelo referendo organizado há dois anos sobre a autodeterminação da Catalunha e a declaração de independência feita perante o estado espanhol no final deste mesmo mês.
O veredicto? Os órgãos de justiça espanhóis não chegaram a julgar os condenados pelo crime de rebelião, mas sim pelos de sedição e desvio de fundos públicos, o que resultou em penas dos nove aos 13 anos de prisão.
Foi, aliás, a pena mais alta a que foi dada a Oriol Junqueras, o vice-presidente do executivo catalão que organizou esse referendo. O homem de quem era braço direito, Carles Puigdemont, mantém-se em liberdade na Bélgica, apesar da justiça espanhola ter emitido uma ordem europeia de detenção e entrega contra si.
Este não é o espaço para tecer comentário político, mas uma coisa é certa: se o objetivo das condenações era fazer daqueles homens um exemplo para impedir futuras pulsões independentistas, este parece ter falhado, já que não só os líderes catalães prometeram reagir como a própria reação popular ocorreu de imediato nas ruas da Catalunha, com populares a cortar avenidas e linhas férreas e a ocupar aeroportos. Depois de Hong Kong, seguir-se-á Barcelona como cidade tomado pela desobediência civil? Talvez. Ou talvez não, como nos diz Francisco Sena Santos.
Do lado de cá da fronteira, é amanhã que 2017 nos volta a recordar de duras memórias, já fazem dois anos desde que uma vaga de incêndios na região centro ceifou muitas vidas e desalojou muitas mais.
Para ser sincero, este, para mim, não é um daqueles momentos onde me lembro onde estava quando ocorreu. Estava provavelmente desligado de tudo e de todos, mas recordo ficar em choque quando soube. Certamente não terei sido o único a pensar de imediato “em outubro?!”, seguido de um “e outra vez?!” tendo ainda Pedrógão na memória.
Uma coisa é certa, por mais que doa recordarmos estes horríveis números, é um dever cívico fazê-lo para que nunca mais se voltem a repetir. Para que não voltemos a ter chorar a morte de 50 pessoas, de curar os ferimentos de outras 70 e de realojar os habitantes de 1.500 casas destruídas ou danificadas.
Mudando para um assunto mais ligeiro e já que se falta de retornos — por curiosidade, saiba que um dos pais da teoria filosófica do “Eterno Retorno”, Friedrich Nietzsche, faria 175 anos amanhã, caso fosse de facto um “super homem” — no final desta semana há uma figura marcante da música nacional a fazer o seu regresso aos palcos em nome próprio, 10 anos depois do seu último concerto nesses moldes e 20 anos depois de lançar o seu álbum de estreia. Trata-se de Sam the Kid, sendo que o rapper falou com Rita Sousa Vieira sobre esse muitos outros assuntos.
Por fim, duas sugestões:
- Se tem a felicidade de chamar a Coimbra sua casa, saiba que começa amanhã a 20.ª edição da Festa do Cinema Francês.
- Outro grande retorno, mas desta feita aos discos. Os Mão Morta lançaram o seu novo álbum de originais, “No Fim Era o Frio”, sendo este um trabalho conceptual constituído por módulos que contam uma narrativa distópica. Quem conhece a banda bracarense, sabe que vai contar com uma obra negra, perturbadora e construída com a finesse que só eles sabem ter.
Eu sou o António Moura dos Santos e hoje o dia foi assim.
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