Numa intervenção na Universidade de Verão do PSD, iniciativa de formação de jovens quadros, Paulo Rangel acusou o primeiro-ministro de "confundir o Estado social com o Estado salarial", aumentando rendimentos mas, para cumprir as metas orçamentais europeias, fazer "cortes brutais" em áreas como a educação, saúde, segurança e proteção civil.
"O que lamento é que, para cumprirmos as metas europeias e criar a tal ilusão do Estado salarial, tenhamos criado condições de deterioração, de degradação dos nossos serviços públicos essenciais que já causaram vítimas e não foram poucas, é isto que eu lamento", disse, numa referência implícita às vítimas mortais (pelo menos 64) dos incêndios que começaram em Pedrógão Grande.
Para Rangel, aquilo que o Governo "dá com uma mão" - devolução de rendimentos de uma só vez e aumento de pensões - é menos importante do que aquilo "que tira com a outra".
"O governo da esquerda radical, que supostamente defende o Estado social e o Estado, tem uma política de rendimentos que pode ser de esquerda, mas tem uma política para o Estado que é ultraliberal: corta na saúde, corta na educação, corta na proteção civil", acusou.
"Eu não tenho qualquer dúvida de que o caos que se viveu na época de incêndios tem a ver com os cortes", acrescentou.
Para o eurodeputado e antigo líder parlamentar do PSD, o caminho de devolução gradual de rendimentos, defendido pelo anterior Governo, "não comprometia nem a vida, nem a integridade física, nem a segurança dos portugueses".
"Não há milagres: se há um governo que, num ano só, procura aumentar os pensionistas e funcionários públicos para níveis anteriores aos do resgate, quando aumenta a despesa e consegue reduzir o défice é porque está a fazer cortes radicais, brutais, em algum lado", afirmou, defendendo que nos anos da ‘troika' o Governo PSD/CDS conseguiu manter os serviços essenciais.
Para Paulo Rangel, o perfil do "Governo Costa" é "dar com uma mão" um aumento de dez euros aos pensionistas, mas atrasar cirurgias essenciais.
"O que se ganha com a troca? Se um reformado esta à espera de uma cirurgia, com mais dez euros não consegue a cirurgia em lado nenhum, se tivesse menos euros, teria a cirurgia a tempo no Serviço Nacional de Saúde", defendeu.
Além dos incêndios deste Verão, Rangel referiu-se também ao assalto de material de guerra em Tancos, à falta de condições de funcionamento dos tribunais e até ao aumento de mortes nas estradas, pela primeira vez nos últimos anos, que considera deverem-se a cortes na prevenção rodoviária.
"O que nós estamos a assistir é a um desinvestimento brutal nos serviços aos cidadãos (?) Com o Governo Costa, os serviços essenciais na saúde, na educação, na proteção de pessoas e bens falharam e falham clamorosamente", atacou, acusando o executivo de fazer uma "destruição molecular, tijolo a tijolo" dos serviços essenciais.
O eurodeputado defendeu que Estado social "não é a política de rendimentos, é ter sistemas de saúde e educação a funcionarem em condições decentes, Forças Armadas que criem sentimentos de segurança e tranquilidade e serviços de Proteção Civil que garantam que tragédias como as de Pedrógão Grande não acontecem",
"O governo Costa está a desmontar os pilares do Estado social porque ele julga que é um Estado salarial", acusou.
No início da sua intervenção intitulada "Portugal e o futuro da Europa", Paulo Rangel considerou a Universidade de Verão do PSD "o acontecimento político" da ‘rentrée' e referiu-se indiretamente à presença na iniciativa do ex-Presidente da República, Cavaco Silva, na passada quarta-feira.
"O Presidente da República e o primeiro-ministro fizeram declarações sobre discursos, debates feitos na Universidade de Verão. Uma organização que põe os dois principais responsáveis políticos a falar sobre ela só pode ser uma organização marcante", elogiou, agradecendo ao diretor da iniciativa, o também eurodeputado Carlos Coelho.
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