O que são os incels?

O termo tem origem nos anos 90 e é uma abreviação de “celibatários involuntários”. São incels aqueles que se descrevem como incapazes de ter um relacionamento ou uma vida sexual ativa, apesar de desejarem o contrário.

A comunidade é maioritariamente composta por homens heterossexuais, que comunicam em fóruns virtuais, no entanto as discussões não ficam pelo sentimento de tristeza e ressentimento que partilham. Pelo contrário, as mensagens e os posts da comunidade incel são frequentemente caracterizados por misoginia, misantropia, racismo e ódio por pessoas sexualmente ativas. 

A oposição ao feminismo e aos direitos das mulheres é também uma ideologia comum entre os incels, que culpam a emancipação feminina pela dificuldade que sentem em encontrar um par. 

80/20, Black Pill, Staceys e Chads

É precisamente nas mulheres que está o problema, para esta comunidade, e assim surge a teoria “80/20”. A crença, que tem origem na economia, sugere que 80% das mulheres no mundo, sentem-se atraídas apenas por 20% dos homens, o que deixa todos os outros sem oportunidades.

Uma vez que dizem ser excluídos desta minoria, culpam as mulheres, que consideram interesseiras e oportunistas.

Mas há mais códigos. Nos fóruns da comunidade, as mulheres atraentes são chamadas de “Staceys” e os homens sexualmente ativos, são os “Chads”. Ambos são insultados e ridicularizados pelos incels.

A black pill, ou comprimido preto, é outro termo bastante utilizado entre os incels. Remete ao filme Matrix, onde um comprimido vermelho e um comprimido azul representam a escolha entre a verdade dolorosa e a ignorância abençoada. Já os incels, influenciam os seus seguidores a tomar o comprimido preto, que representa aceitar que “perderam na loteria genética” e portanto, levarão uma vida oprimida pelo feminismo. 

O Supremo Cavalheiro e Andrew Tate

Elliot Rodger, muitas vezes apelidado como o “herói incel” tornou-se um ícone para esta comunidade, depois de ter ficado conhecido por ser o autor do massacre de Isla Vista, na Califórnia em maio de 2014.

O jovem de 22 anos descrevia-se como um incel, e nos meses antes do ataque, publicou vários vídeos no YouTube onde falava sobre os seus problemas pessoais, nomeadamente, a frustração que sentia por ser virgem aos 22 anos, uma vez que se considerava o “supremo cavalheiro”.  

Antes de matar 6 pessoas, fazer 14 feridos e suicidar-se, Elliott publicou um último vídeo onde anunciava que ia “castigar” as mulheres, e também os homens por elas amados, pela falta de interesse que sentiam por ele. Enviou ainda um manifesto de 137 páginas, que escreveu sobre os motivos que o levaram a cometer o massacre, a todos os contactos que tinha.

As ações de Eliott inspiraram, pelo menos, mais um ato terrorista, que aconteceu no Canadá em 2018, quando Alek Minassian, de 25 anos, matou 11 pessoas e feriu 15, num atropelamento em massa. Na altura, o autor do crime descreveu-se às autoridades como um incel e foi encontrada uma publicação no Facebook, onde anunciava o ataque, que descreveu como “a revolta incel” começada pelo “supremo cavalheiro”.

O influencer Andrew Tate, alvo de investigações judiciais por tráfico humano e violação, é também considerado um ícone para os incels, pelas suas ideologias machistas, que promovem a ultra-masculinidade.

Nos últimos anos, a comunidade incel tem-se tornado cada vez mais extremista, o que é atribuído a fatores como a influência de grupos de ódio virtuais e a ascensão da extrema-direita e supremacia branca. Vários fóruns de discussão virtuais já foram banidos, e em 2021, autoridades britânicas tentaram mesmo declarar os grupos incel como “organizações terroristas”, depois de um ataque em massa cometido por outro jovem, que se identificava como um incel.