Em declarações à Lusa, via telefone, o deputado social-democrata Nuno Serra analisou o discurso com que o primeiro-ministro assinalou a rentrée socialista, em Faro, no sábado à noite, como “um muito mau exercício político”, “no registo da conversa fiada, que, no fundo, tenta branquear alguns maus momentos do Governo”.
Em Faro, o secretário-geral do PS acusou os líderes do PSD e do CDS-PP de nada terem feito pela floresta quando estavam no Governo. “Foi preciso chegar a tragédia para que os outros acordassem e viessem ao debate, não com propostas, mas simplesmente criticando e votando contra grande parte do pacote florestal”, afirmou.
Costa disse ainda que o cadastro florestal está “há séculos parado”, tendo a direita “votado contra os diplomas” referentes.
“Não é verdade”, retorquiu Nuno Serra, frisando que tais declarações revelam “uma enorme ignorância em relação ao tema da reforma da floresta” por parte do primeiro-ministro e aconselhando-o a “falar mais” com o ministro da Agricultura.
“Os partidos de direita viabilizaram o cadastro, aliás, os partidos de direita apresentaram uma proposta de cadastro bem antes do dia 27 de outubro de 2016, que o senhor primeiro-ministro ontem [sábado] referiu como quase o dia zero para a floresta em Portugal”, ironizou o deputado, referindo-se ao dia em que o Governo socialista apresentou no Parlamento a reforma da floresta.
A proposta da direita “foi totalmente rejeitada pelos partidos de esquerda”, recordou Nuno Serra.
Sobre as afirmações de que só agora os partidos de direita teriam acordado para a reforma da floresta, o deputado social-democrata entende que Costa “só pode estar a falar para o seu próprio partido e para o Bloco de Esquerda, porque foram os únicos dois partidos que pediram a baixa à especialidade, a dia 20 de março, das propostas vindas do Governo e que, até essa data, não tinham sequer suscitado a discussão das mesmas”.
Durante o discurso em Faro, Costa proferiu “um conjunto de tricas, que mostraram, nalguns aspetos, uma grande ignorância (…) relativamente a um assunto tão importante para Portugal como a floresta”, considerou o deputado.
“O que esperávamos era que, nesta rentrée política, o senhor primeiro-ministro viesse dizer aos portugueses os problemas que tem havido na coordenação da Proteção Civil, que tem sido mais descoordenação que coordenação, que têm posto em causa um património ambiental, social e económico enorme no nosso país”, frisou.
O PSD considerou ainda “lamentável” que Costa volte “a usar a tragédia de Pedrógão Grande”, onde um incêndio em junho fez 64 mortos e duas centenas de feridos, para “tricas políticas”.
Em vez de falar de Pedrógão Grande e da reforma florestal, “que já está em curso e já foi aprovada”, o PSD gostava de ter ouvido o primeiro-ministro explicar os fogos “de grande dimensão, que têm sido de difícil controlo por parte dos meios” disponíveis e dizer o que o Governo “está a pensar fazer no futuro para mitigar esses problemas”.
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