Sob o lema "Justiça na Resposta à Crise", os bloquistas debatem o futuro do partido, discutem cinco moções de orientação e elegem os novos órgãos durante dois dias, uma convenção também ela marcada pela pandemia - foi aliás adiada mais de seis meses -, desde logo com a redução para metade dos delegados previstos no Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos, distrito do Porto, entre outras regras sanitárias que serão aplicadas.
Hoje à noite, numa habitual “antecâmara” da convenção, o BE promove uma sessão internacionalista intitulada “Salvar vidas, não os lucros” dedicada ao direito à saúde, pelo levantamento das patentes das vacinas contra a covid-19 na União Europeia, que conta com a participação de Marisa Matias, Xosé Luís Rivera Jácome (Confederación Intersindical Galega), Aranda da Silva (ex-presidente do Infarmed), Teresa Summavielle (Investigadora - I3S UP) e Moisés Ferreira (deputado do BE).
Na eleição dos 343 delegados que decorreu no passado fim de semana, a moção A, da atual liderança e encabeçada pela coordenadora, Catarina Martins, teve uma queda em relação à última reunião magna, já que elegeu 233 delegados (67,9%), depois de em 2018 ter conseguido 83,7% dos lugares, ao mesmo tempo que a moção E, promovida pelos críticos que integram o movimento Convergência, alcançou 66 delegados (19,2%).
Esta será uma reunião magna que acontecerá em condições diferentes da última, em 2018, numa altura em que o partido integrava a chamada ‘geringonça’ no apoio parlamentar a governo PS minoritário, tendo sido assumida então a possibilidade de vir a assumir funções governativas após as legislativas de 2019, sempre condicionadas a um reforço eleitoral.
Esse reforço eleitoral não aconteceu, apesar da manutenção dos mesmos 19 deputados (perdeu cerca de 50 mil votos), não houve novo acordo com o PS para a legislatura - responsabilidade que os bloquistas atribuem aos socialistas -, chegou o primeiro voto contra num Orçamento do Estado de um governo de António Costa e depois um mau resultado nas eleições presidenciais cuja candidata foi a eurodeputada Marisa Matias.
Depois das negociações orçamentais tensas e que saíram frustradas, as relações com o PS nunca mais voltaram a ser as mesmas e o BE tem-se assumido como oposição, crítico em temas como os negócios das barragens da EDP, o Novo Banco ou a falta de apoios sociais.
Na XII Convenção Nacional, o futuro das relações com o PS e o posicionamento do partido em relação ao Orçamento do Estado para 2022 prometem ser alguns dos pratos fortes, tendo o BE manifestado disponibilidade para negociar e Catarina Martins deixado já alertas, em entrevista à agência Lusa, sobre este documento.
A coordenadora bloquista avisa que "sem um programa para o emprego não haverá um orçamento de esquerda", colocando o tema no centro das negociações e remetendo para o Governo a criação de condições para a viabilização do OE2022.
Na mesma entrevista, a líder recandidata vê com normalidade as oposições internas no partido, não teme que esta reunião magna seja mais difícil do que as outras e considera que preocupante seriam unanimismos.
Na moção A - intitulada "Sair da crise, lutar contra a desigualdade" e que tem entre a lista de subscritores Pedro Filipe Soares ou Marisa Matias - é criticada a "política de débeis paliativos" do PS e são responsabilizados PCP e PAN pela sua legitimação à esquerda, assumindo-se como uma alternativa que recusa a austeridade.
Sobre autárquicas, a moção que a liderança do BE leva à convenção rejeita qualquer coligação "com os partidos de direita e com o PS", mas assume a disponibilidade dos bloquistas "para todas as responsabilidades" nos municípios e freguesias.
Também em entrevista à Lusa, a moção E, crítica da atual liderança bloquista, apresenta-se contra uma política do BE que, consideram, "está cansada", e com o objetivo de acabar com uma "excessiva proximidade ao PS", antecipando que a direção vai "deixar de ser monolítica" ao mudar a correlação de forças.
Para a moção Q - "Quebrar correntes, lutar pelo socialismo", com nove delegados à convenção - "o Bloco não é o garante da estabilidade do poder instalado, tem de ser a alternativa a ele", alegando que a nível interno "falta democracia, militância significativa e protagonismo das bases, sobra centralização, institucionalização e rotina".
"Neste momento, o Bloco corre o risco de ficar acantonado. Por um lado, o PCP não quer nada connosco. Por outro, nós não queremos nada com o PS. Temos de modular a nossa tática e estratégia para evitar sermos vítimas de uma espécie de cerca sanitária, que nos isola dos partidos mais próximos de nós", defende, por seu turno, a moção C, denominada "Mais democracia, mais organização", que terá oito delegados em Matosinhos.
Já a moção N - "Por uma revolução tranquila" e com cinco delegados - critica que "sucessivas incapacidades relacionais com o PS afundaram o BE e remeteram-no, de novo, para uma nota de rodapé" e pede que seja lançado "um sério desafio ao PS": "Ou aceita um acordo (escrito e assinado) com uma clarificação das linhas vermelhas e com uma aposta decisiva no desenvolvimento ou haverá crise política".
Comentários