
A ofensiva ocorre num momento em que os Estados Unidos e o Irão realizam uma série de negociações para chegar a um acordo sobre a questão nuclear iraniana e estavam programados para se reunir em Omã no domingo.
"Estamos muito perto de um bom acordo", disse o presidente dos EUA, Donald Trump, a repórteres na quinta-feira. "Não quero que eles intervenham, porque acho que isso arruinaria tudo", afirmou, referindo-se a Israel.
Mas na sexta-feira, Trump pareceu não se incomodar com a ação de Israel e instou Teerão a chegar a um acordo, na sua plataforma Truth Social.
Washington afirmou ter sido informado por Israel antes dos ataques.
Menahem Merhavy, da Universidade Hebraica de Jerusalém, "duvida que Israel pudesse ter feito isso se os Estados Unidos tivessem dito para não fazer" e suspeita de um possível acordo do tipo "vocês (Washington) negociam e nós (Israel) atacamos".
"O momento escolhido é lógico, porque Israel vem cortando as asas do Irão há um ano e meio", disse Merhavy à AFP, referindo-se às operações militares israelitas fora das suas fronteiras contra o Irão e os seus aliados regionais desde o início da guerra desencadeada em 7 de outubro de 2023 pelo movimento islamista palestiniano Hamas, apoiado por Teerão.
O ataque ao Irão "não aconteceu por acaso e ordenei a eliminação do programa nuclear iraniano há seis meses", disse Netanyahu.
"Medidas tiveram que ser tomadas e estabeleci a data para o final de abril de 2025, mas por vários motivos, não deu certo", acrescentou.
"Erro histórico"
A obsessão do primeiro-ministro israelita pelo Irão não é nova.
Em dezembro de 2005, menos de dois meses após a comoção internacional provocada pelo apelo do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad para "varrer Israel do mapa", Netanyahu, então na oposição, declarou que o programa nuclear iraniano "representa um grave perigo para o futuro" do seu país.
Na altura, afirmou que Israel "deve fazer todo o possível para impedir que o Irão" obtenha a bomba atómica, o que já levantava a possibilidade de ataques militares.
Netanyahu tornou-se primeiro-ministro em 2009, cargo que ocupa desde então, exceto por um hiato de um ano e meio em 2021-2022.
Ao longo desses anos, o líder afirmou repetidamente que não acredita nas negações da República Islâmica sobre o seu programa nuclear civil e frequentemente ameaçou usar a "opção militar" contra Teerão.
Em 2015, descreveu o acordo internacional assinado em Viena entre diversas potências e Teerão para aliviar as sanções internacionais em troca de garantias destinadas a impedir o Irão de adquirir armas nucleares como um "erro histórico".
Três anos depois, ele aplaudiu a decisão de Trump de retirar Washington do pacto.
Em resposta, Teerão deixou de cumprir os seus compromissos até enriquecer urânio a níveis próximos ao necessário para a produção de armas.
Durante esse período, a Mossad, serviço secreto israelita, atuou no Irão e realizou diversas operações de grande escala contra o programa nuclear iraniano.
Israel, que nunca confirmou ou negou possuir armas atómicas, possui 90 ogivas nucleares, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI).
Mudar o equilíbrio
Desde o ataque de 7 de outubro, Netanyahu tem reiterado que Israel luta pela sua sobrevivência e está determinado a "remodelar o Oriente Médio".
No outono de 2024, Israel marcou um ponto ao derrotar o Hezbollah, o braço armado do Irão no Líbano, antes da queda de Bashar al-Assad em Damasco, em dezembro, o que levou à retirada de milhares de conselheiros militares e combatentes mobilizados pelo Irão da Síria.
No final de outubro, o Exército israelita respondeu ao lançamento de cerca de 200 mísseis iranianos em direção a Israel com ataques aéreos contra alvos militares no Irão.
O então ministro da Defesa, Yoav Gallant, disse que os ataques "mudaram o equilíbrio de poder" e "enfraqueceram a capacidade (do Irão) de construir mísseis e a sua capacidade de se defender".
Para Danny Citrinowicz, do Instituto Nacional de Estudos de Segurança de Israel (INSS), Trump provavelmente considera o ataque de Israel como algo que "serve aos seus interesses".
O presidente americano "acredita genuinamente que, enquanto o Irão estiver enfraquecido, ele será capaz de concluir um acordo sobre a questão nuclear iraniana", explicou à AFP.
Holly Dagres, especialista em Irão do Instituto Washington, alerta, no entanto, que se o governo Trump acredita que haverá novas "conversas com os iranianos em Omã no domingo, isso mostra que realmente não entende nada sobre a República Islâmica".
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