
A circulação e o estacionamento dos ‘tuk tuk’ passaram a ter, desde o dia 01 de abril, zonas de restrição com a proibição de circulação em 337 ruas da capital, na sequência de um despacho da Câmara Municipal.
Também desde essa data, a EMEL – Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa começou a fiscalizar o cumprimento do Código da Estrada na cidade, com uma brigada especialmente vocacionada para fiscalizar ‘tuk-tuk’ e TVDE.
Quase uma semana depois destas medidas terem entrado em vigor, tanto motoristas como a Associação Nacional de Condutores de Animação Turística e Animadores Turísticos (ANCAT) reconhecem a necessidade de melhorar o setor, mas consideram que “ainda há muita coisa a afinar”.
“É uma semana em que estão todos a aprender, quer os próprios associados da ANCAT quer também as autoridades camarárias. Portanto, eu creio que há espaço ainda para limar algumas situações que acontecem no terreno”, afirmou à agência Lusa o presidente da associação, Frederico Carvalho.
A inquietar os motoristas dos ‘tuk tuk’ está, por exemplo, a limitação, em alguns locais, de paragem de 15 minutos para estes veículos, como por exemplo junto à Sé de Lisboa ou das Portas do Sol, em Alfama, explicou à Lusa o condutor Eloy Leal.
“A gente, às vezes, está há duas horas [à espera] e não arranja ninguém, quanto mais em 15 minutos. Há coisas que também devem ser melhor estudadas”, apontou.
Por isso, Eloy Leal, condutor de ‘tuk tuk’ há sete anos, reconhece que as coisas “estão mais organizadas”, mas lamenta que “certas partes” não tenham sido “bem estudadas”, como as ruas que foram vedadas.
“Até acho que está a haver organização. É mesmo só as placas [de proibição de circulação] e não nos deixarem passar. Então, se a gente está a mostrar às pessoas, a gente não vai estacionar, a gente apenas vai mostrar”, afirmou.
O motorista acrescentou que em algumas das ruas onde não podem circular “não há trânsito” e mesmo assim “não os deixam passar”.
Enquanto aguarda por clientes à porta da Sé de Lisboa, o motorista Carlos Freitas também se queixa à Lusa da limitação de paragem de 15 minutos.
“Os carros têm de estar sempre a circular e causa um trânsito enorme. Agora não, que é hora de almoço, fica mais calmo, mas sempre que é de manhã, horas de ponta, fica muito complicado”, apontou.
Relativamente às restrições de circulação em algumas ruas, este motorista de ‘tuk tuk’ receia que apenas contribua para “causar mais trânsito na cidade”.
“Eles dizem as ruas em que não podemos ir, mas não está lá ninguém a controlar. Nós não vamos por respeito. Acho que isso só vai causar mais tráfego, porque temos de dar voltas maiores. Depois queixam-se de que andamos em todo lado”, sublinha.
O despacho da Câmara de Lisboa, assinado em fevereiro, determina a proibição de circulação em várias vias das freguesias das Avenidas Novas, Arroios, Penha de França, São Vicente, Santo António, Misericórdia e Santa Maria Maior e a indicação de zonas destinadas à sua paragem e estacionamento.
Segundo explicou o presidente da ANCAT, estas limitações de circulação “não interferem com a atividade normal dos ‘tuk tuk'”, mas estão a causar “constrangimentos” no trânsito de Lisboa, nomeadamente na zona da Baixa e do centro histórico.
“As novas ruas que já estão fechadas são vias que nós queremos passar ou em vazio ou quando vamos de uma via para a outra para não irmos empancar, afunilar tudo nos passeios turísticos, que esses sim estão abertos. Nós continuamos a fazer um trabalho normal, mas há certas vias escapatórias, de mobilidade para a cidade, onde outras pessoas podem entrar e nós desejaríamos entrar também”, argumentou Frederico Carvalho.
O aumento de motoristas estrangeiros, sem capacidade de falar português e “com uma condução duvidosa”, é outras das preocupações manifestadas pelos profissionais deste setor, mas que, segundo a ANCAT só se resolve como uma regulamentação nacional.
“Bons profissionais têm direito a existir. Isto é uma profissão nova e nem sequer está regulamentada. Nós não podemos dizer quem é que pode ou quem é que não deve trabalhar”, ressalvou o presidente da ANCAT.
Relativamente à relação com a EMEL, Frederico Carvalho assegurou que o trabalho tem sido de parceria e diálogo e que o desejo é que “continue a ser assim no futuro”.
“Vamos vendo com eles [EMEL]. Os moradores ainda não perceberam alguns dos sítios onde nós podemos parar e param nos nossos lugares. A EMEL tem de ser nossa amiga e também queremos que fiscalize quem está nos nossos lugares”, queixou-se.
Apesar da necessidade de serem “limadas algumas arestas”, tanto os motoristas, como a ANCAT fazem um balanço globalmente positivo destas medidas.
Para fiscalizar as novas medidas, a EMEL reforçou o seu contingente com 62 fiscais, “que passam agora a apoiar as ações de fiscalização da Polícia Municipal de Lisboa, que liderará as operações no terreno”.
As principais zonas a fiscalizar serão a Baixa Pombalina, Encosta do Castelo, Nossa Senhora do Monte e Belém.
Em julho do ano passado foi anunciada a criação de um novo regulamento dos veículos de animação turística que pretende limitar os locais de estacionamento dos ‘tuk tuk’ e o número de licenças a atribuir a este tipo de veículos, de forma a regular a atividade na cidade.
A ANCAT conta, até ao momento, com cerca de 500 associados.
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