Em entrevista à agência Lusa, a propósito dos 95 anos da instituição, que se assinalam no sábado, o novo presidente do IPO de Lisboa disse que “tem havido sempre uma certa drenagem de profissionais para o privado”, defendendo que é preciso encontrar formas mais eficazes para os reter.
“Não é novidade para ninguém que os serviços públicos neste momento têm dificuldades em manter os seus quadros, nomeadamente na saúde, a competição com o setor privado é muito grande e os argumentos para retermos os melhores profissionais não são muitos e isso obriga-nos a ser imaginativos e sobretudo a tratarmos bem as pessoas”, adiantou.
João Oliveira lembrou as “muitas restrições à remuneração e às condições de trabalho dos servidores públicos” ocorridas durante os anos da crise.
“A evolução das carreiras nas diversas profissões teve tempos diversos que criaram uma complexidade enorme, o que associado às restrições, que foram sempre muito cegas, cria problemas até legais na forma como remuneramos, premiamos e reconhecemos o labor dos nossos profissionais”, adiantou.
Mas, apesar das dificuldades e de “um desfavorecimento muito grande em relação aos setores privados, segundo aquilo que nos dizem, nunca nenhum profissional regateou a sua colaboração, com a maior das dedicações, apesar de se sentir injustiçadamente mal compensado do ponto de vista remuneratório”.
“Isso é uma riqueza que este instituto tem e que gostaríamos de continuar a premiar, podendo encontrar formas de fixar os nossos profissionais de maneira mais eficaz”, defendeu.
O oncologista, que exerce funções no IPO há 27 anos, apontou ainda as dificuldades que existem para recrutar profissionais para substituir os que saem e a sua integração, que “leva tempo e consome esforço”.
“Os profissionais das diferentes áreas da nossa atividade têm qualificações que se adquirem ao longo de vários anos e não são facilmente substituíveis por quem recrutamos de novo. Portanto, esta integração leva tempo e consome esforço e muitas vezes para fixarmos uma pessoa temos que recrutar várias”, lamentou.
Por outro lado, quase todos os recrutamentos precisam de ser autorizados pelos ministérios da Saúde e das Finanças, o que cria dificuldades e consome “muito esforço” interno.
“Nós compreendemos que têm que ser bem justificadas as necessidades de mais profissionais, mas muitas vezes acabamos por ter que justificar coisas que são óbvias e isto não é rentável do ponto de vista do esforço dos administradores e dos médicos e dos profissionais que têm de elaborar essas justificações”, adiantou.
Questionado sobre como se gere um aumento de doentes com falta de recursos humanos, João Oliveira disse que é “com dificuldade”, tentando “hierarquizar muito bem as coisas que são indispensáveis daquelas que possam ser menos necessárias, mas o que tem acontecido é um grande aumento da carga de trabalho a todos os níveis”.
Falando sobre as listas de espera, o presidente do IPO disse que a instituição tem conseguido cumprir os tempos máximos de resposta parcialmente, não com todos os doentes.
“Lutamos para que o consigamos, lutamos todos os dias para diminuir a lista de espera” essencialmente cirúrgica, o que exige uma “gestão muito rigorosa” dos recursos humanos no bloco operatório.
Com o novo bloco operatório, o IPO vai “ter mais capacidade e maior agilidade na utilização” dos recursos, “mas vai ser difícil nos próximos anos livrarmo-nos da lista de espera que também existe um pouco por todos os países da Europa, embora isso não nos conforte”.
João Oliveira explicou que uma parte das listas de espera também está relacionada com a capacidade de recobro pós-operatório, de cuidados intensivos, e de unidades de vigilância mais apertada que são necessárias devido à complexidade das cirurgias.
“Se há coisa que mudou na cirurgia do cancro é a complexidade das operações, que justificam maior diferenciação e complexidade dos cuidados pós-operatórios”, sublinhou.
Em 30 de junho, o número de inscritos em lista de espera para cirurgia no IPO era de 1.339 doentes e apresentava um tempo médio de espera de 106 dias. A mediana do tempo de espera é de 57 dias.
Encontravam-se nessa data 63 doentes há mais de 12 meses a aguardar cirurgia (5% no total de doentes em lista de espera).
A percentagem de propostas registadas que ultrapassaram o tempo máximo de resposta garantido (TMRG) era de 41%, mas, apesar desta percentagem, para cerca de 13% desses doentes o prazo foi ultrapassado em dez dias e para cerca de 20% em 15 dias, segundo dados do IPO.
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