Na véspera da apresentação do relatório da comissão independente que investigou os abusos sexuais na Igreja Católica em Portugal, D. Américo Aguiar disse que “a dor não prescreve”.
“Qualquer pessoa que tenha vivido o flagelo de um crime destes tem um sofrimento que não se compara com qualquer quebra de notoriedade ou prejuízo colateral que a Igreja possa ter", disse o bispo, quando questionado na SIC Notícias sobre a divulgação do relatório final da comissão independente que, no último ano, investigou os abusos sexuais de crianças na Igreja Católica em Portugal.
"Há feridas que nunca mais saram na totalidade, qualquer sofrimento que advenha à Igreja não se compara com o sofrimento que uma pessoa possa ter vivido ao ser vítima de um crime hediondo como este", respondeu o sacerdote quando questionado sobre o que deve a Igreja dizer quando o relatório sobre os abusos sexuais for divulgado, na segunda-feira.
As declarações de D. Américo Aguiar foram feitas no final de uma entrevista sobre a Jornada Mundial da Juventude, na qual assegurou que não conhecia o relatório e que fez um acordo com o coordenador da comissão, o pedopsiquiatra Pedro Strecht, para "estar calado durante um ano", até à altura da divulgação do relatório.
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) recebeu hoje à tarde o relatório final da comissão independente que, no último ano, investigou os abusos sexuais de crianças na Igreja Católica em Portugal.
A entrega decorreu, esta tarde, nas instalações da Conferência Episcopal Portuguesa e contou com a presença de toda a equipa de trabalho da comissão independente, confirmou em comunicado a CEP, uma estrutura que congrega o conjunto dos bispos das dioceses de Portugal.
Depois da sua entrega à CEP, o relatório final da comissão, coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e que começou a recolher testemunhos em 11 de janeiro do ano passado, será apresentado na segunda-feira de manhã em Lisboa. Para 03 de março foi já convocada uma assembleia plenária extraordinária da Conferência Episcopal para analisar o documento.
Sem querer adiantar números finais até à apresentação do relatório final, a comissão divulgou no seu anterior balanço público, em outubro, que já tinha registado 424 testemunhos validados, compreendendo casos de abusos ocorridos desde 1950 e vítimas entre os 15 e os 88 anos.
Os casos de abusos sexuais revelados ao longo de 2022 abalaram a Igreja e a própria sociedade portuguesa, à imagem do que tinha ocorrido com iniciativas similares em outros países.
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