No dia internacional da rapariga, o SAPO24 publica um vídeo da Ripple Effect Images. O coletivo, sem fins lucrativos, inclui fotógrafos, escritores e cineastas premiados e dedica-se a cobrir programas de ajuda que empoderam mulheres e meninas no mundo em desenvolvimento. "Piplantri" recebe o nome e conta a história da vila indiana onde foi filmado.
Acordadas da sesta, as meninas choram ainda dentro dos cestos. Os homens terminaram, por agora, de fazer os seus discursos e, um por um, as mães levantam as suas filhas. Os bebés são novos neste mundo — todos nascidos no ano passado -— e cada um é colocado como um troféu, embrulhado em algodão vermelho num cesto redondo. As mulheres carregam os cestos dos bebés na cabeça, em procissão, através das multidões nas ruas da vila de Piplantri.
Os seus longos véus esvoaçantes oferecem um desfile de tons pastel: rosa e fúcsia, narciso, tangerina e lilás. Os alegres tambores indianos marcam o ritmo do dia - um dia de celebração e de nova vida. As mulheres param num local vazio perto da periferia da cidade e, de seguida, colocam as suas cestas com os bebés no solo seco e em ruínas, no coração do Rajastão.
É feito o primeiro buraco na terra e nele, rodeadas pelas suas filhas recém-nascidas, as mães depositam uma árvore pequena na terra, cobrindo, de seguida, as suas raízes. Uma a uma, as novas árvores são plantadas - nim, pau-rosa, manga e groselha - como uma floresta de futuro colocada de volta na Terra, para crescer e prosperar como esta nova geração de filhas. Por cada menina nascida em Piplantri, os moradores plantam 111 árvores - um número auspicioso que significa um portal aberto ou uma nova oportunidade. Este ano nasceram 60 meninas e, portanto, os moradores estão ocupados, a cavar, plantar e regar, por toda a comunidade.
Em nenhum outro lugar da Índia há uma celebração como esta, homenageando todas as meninas e, ao mesmo tempo, reabastecendo a terra com árvores.
Desta forma, o povo de Piplantri recuperou uma tradição antiga e tornou-a, de novo, sua. É o último dia de Shraavana, o quinto mês lunar no calendário hindu. No resto da Índia, é uma época sagrada de jejum e festivais, celebrando a explosão de vida verde a seguir às monções.
O feriado é Raksha Badhan, dedicado ao amor especial entre irmão e irmã. Tradicionalmente, irmãs de todas as idades amarram um rakhi - um talismã especial com contas - nos pulsos dos seus irmãos. Em troca, os irmãos oferecem pequenos presentes, em dinheiro, às irmãs. As pequenas trocas iniciam o raksha badhan, ou "o vínculo de proteção" em sânscrito. Em Piplantri, esse vínculo de proteção foi ampliado de famílias e filhas e para a comunidade e a floresta circundante. Para os moradores, Raksha Badhan é um momento de promessa e proteção, tanto para as filhas como para o meio ambiente. O que já era um feriado hindu tornou-se agora um dia de cura e recuperação para as pessoas e para o lugar a que elas chamam de lar.
O desmatamento intensivo assola esta região desértica, do norte da Índia, agravado pela pobreza de milhões que cozinham as suas refeições e fervem chá em fogueiras a lenha diariamente.
* Vídeo de Lucy Martens e Nacho Corbella com texto de Andrew Evans / Ripple Effect Images
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