“Há em Portugal muitas políticas públicas” para combater a pobreza, mas “nenhuma parece ser capaz de a erradicar, particularmente porque não se integram numa estratégia eficiente de interromper os ciclos de transmissão da pobreza, salienta o relatório “Os jovens precisam de um futuro”.
Em Portugal, os mais carenciados provêm de famílias que foram confrontadas com situações de pobreza durante toda a vida, sendo que para a maioria “continua a ser muito difícil sair desta situação e quebrar o ciclo de pobreza”, refere o relatório que descreve os principais desafios relacionados com a pobreza e a exclusão social entre os jovens em Portugal.
Segundo o estudo, os efeitos da transmissão da pobreza observam-se na educação (abandono escolar precoce), no mercado de trabalho (dificuldades de acesso ao emprego) e na habitação (viver em bairros desfavorecidos).
“É provável que uma criança que nasça num agregado familiar carenciado venha a enfrentar mais dificuldades no futuro. Isto tem reflexos evidentes nos seus estudos, a nível familiar e institucional”, sublinha.
A perpetuação do pensamento ‘eu sou pobre, por isso vou ser pobre o resto da minha vida” também torna “muito difícil” a saída do jovem desta situação, aceitando-a como uma condição para o seu futuro.
Relativamente aos direitos que os jovens têm mais dificuldades em aceder, o relatório destaca a educação, o trabalho, habitação, igualdade e não discriminação e proteção social.
“Em Portugal, os jovens têm mais dificuldades em aceder a uma série de direitos”, uma situação para a qual contribui principalmente as dificuldades no acesso ao trabalho.
Por outro lado, os benefícios sociais são maioritariamente canalizados para a população com muitos baixos rendimentos, “obedecendo a sistemas de condições de recursos muto rígidos”, refere o relatório a que a agência Lusa teve acesso.
“Os jovens são confrontados com situações de desemprego, empregos precários, contratos irregulares e baixos salários”, o que torna “muito difícil” um jovem conseguir suportar os custos de habitação.
Perante a realidade observada, o relatório recomenda aos decisores políticos que promovam “níveis salariais dignos”, previnam a precariedade laboral, as irregularidades e a evasão fiscal nos contratos laborais, concedam “oportunidades iguais no acesso à educação” e facilitem “a habitação a preços acessíveis para os jovens de acordo com os seus rendimentos”.
Ao nível europeu, o estudo revela que esta é a primeira geração de jovens a enfrentar o risco de empobrecimento relativamente à geração dos seus pais.
A Cáritas Europa prevê um novo tipo de pobreza juvenil: jovens casais trabalhadores que dificilmente conseguem suportar as suas despesas e que não podem construir uma família, a que apelidou de "SINKIES" (em afundamento).
"Os SINKIES são um sinal extremamente grave que os decisores políticos devem levar muito a sério. Se a tendência se tornar normal, isso provocará sérias consequências para a coesão social da Europa, modelos sociais e sistemas de proteção social. Corremos o risco de ser uma sociedade que se afunda se nenhuma medida for tomada agora", adverte o secretário-geral da Cáritas Europa, Jorge Nuño Mayer.
O relatório é apresentado hoje num encontro em Lisboa, que conta com a presença de Jorge Nuño Mayer e do presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, que assinala o inicio da Semana Nacional Cáritas que decorre até domingo.
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