“Em 2022, houve um aumento muito significativo de apreensões: mais 60% do que em 2021. Na primeira metade deste ano, já apreendemos uma quantidade equivalente a 90% do total do ano passado”, afirmou o coordenador da Polícia Judiciária (PJ) nos Açores, Renato Furtado, em entrevista à agência Lusa.
Segundo o responsável, em 2022 a força de segurança apreendeu na região mais de 88 quilos de droga, suficientes para mais de 216 mil doses.
Essas substâncias foram introduzidas no arquipélago açoriano "por vias aérea, através do circuito postal, e marítima, caso da importação de mercadorias ", onde o produto estupefaciente poderá vir dissimulado, e "através de correios de droga por via aérea".
O coordenador revelou que "prevalece a apreensão de haxixe", a substância estupefaciente "mais procurada e mais consumida" nos Açores, tal como no todo nacional e internacional.
Nos últimos três anos, “foi apreendido um conjunto superior a 53 mil doses de substâncias sintéticas para consumo" na região e que foram importadas.
Já em 2023, foi também apreendida uma quantidade muito significativa de metanfetaminas, perto de 20 mil doses, uma droga "sintética ultrapotente que também é comercializada na região".
O responsável descreveu que a partir de 2019 houve um aumento ao nível das apreensões destas substâncias, sobretudo metanfetaminas que chegam a ser produzidas na região, embora "em pequena escala", em pequenos laboratórios localizados em residências.
O consumidor recorre a essas novas substâncias psicoativas (NSP) porque "são de fácil aquisição", através da internet, com preços "mais baixos do que as drogas convencionais", mas que podem ter efeitos similares.
Segundo Renato Furtado, o problema "não está circunscrito a Ponta Delgada", mas verifica-se sobretudo em São Miguel, a maior ilha dos Açores.
"A costa norte de São Miguel também tem problemas bastante significativos", apontou.
Ainda de acordo com o responsável, "observou-se algum aumento do crime violento nestes últimos anos", a partir de 2019, e “quase metade dos autores destes crimes eram consumidores de estupefacientes nos Açores".
Renato Furtado sublinhou que a PJ no arquipélago tem o seu enfoque nos pontos de entrada de droga na região, por via aérea e via marítima.
"Sabemos que a região é um ponto de passagem de grandes quantidades de estupefacientes com destino ao continente europeu. Isto é também uma preocupação nossa, assim como a entrada via circuito postal", sustentou.
Em causa, sublinhou, está um fenómeno global, regional e local: “Tem-se verificado em todo o lado um aumento significativo de apreensões de diferentes tipologias de droga - em Portugal [a nível nacional] e também nos Açores.”
Também o intendente do Comando Regional da PSP Ruben Medeiros adiantou à Lusa que aquela força policial tem verificado, desde 2020, "um aumento das quantidades de matéria apreendida, em concreto das chamadas drogas sintéticas e NSP", importadas.
"Não estamos a falar de quantidades astronómicas, mas tem havido uma tendência ascendente nas quantidades apreendidas pela PSP, com maior prevalência na ilha de São Miguel do consumo e pequeno tráfico", indicou, em entrevista à Lusa.
Questionado sobre o tráfico de droga em alguns locais de grande movimentação de pessoas, na cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, o responsável assegurou que a PSP "faz incidir uma maior atenção preventiva e repressiva sobre estas zonas".
"Pode-se debelar o fenómeno, mas verifica-se que há uma transferência para outro local. A PSP está atenta às dinâmicas criminais, quer em termos de horários, quer em termos de espaço geográfico e atua", reforçou.
Ruben Medeiros admitiu que o consumo de drogas possa potenciar a prática de uma determinada tipologia de crimes, nomeadamente furtos, ou violência.
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