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Um burguês, foi assim que Jorge Nuno Pinto da Costa nasceu, a 28 de dezembro de 1937. Neto de Honório de Lima, um dos grandes industriais da zona norte, na altura, pertencia a uma família que, entre outras coisas, detinha o Teatro de São João.
Diz quem o conheceu na sua juventude que, contudo, era à sua avó que saía, a dona Alice, com quem desde muito cedo viveu, juntamente com a sua mãe, Elisa, depois da separação desta do seu pai.
O futebol iria fazer parte da sua vida muito cedo, mas antes os estudos começaram por ser mais importantes, pelo menos para a sua família. Entrou no Colégio das Caldinhas, em Santo Tirso, tido como o melhor estabelecimento de ensino na zona norte, na altura. Ali ficou como interno até ao fim do ensino secundário, tendo cumprido esta etapa como um aluno que não estudava muito, de acordo com os amigos mais chegados.
E como a paixão não eram mesmo os estudos, acabou por abandonar a escola no final do liceu, contra a vontade da família. Jorge Nuno Pinto da Costa queria vingar na vida e não parou, procurando desde cedo o seu primeiro emprego, algo que conseguiu na área dos seguros e da banca, com menos de 18 anos. Depois destas aventuras segue o caminho de vendedor de químicos e resinas, algo que continuava a não agradar à família. Mas o "teimoso" Jorge Nuno, como os amigos o tratavam, queria vingar sem ajuda de ninguém. E vingou, e anos mais tarde consegue abrir a sua própria empresa de produtos químicos, posteriormente avançando também para o ramo imobiliário.
O seu FC Porto
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Mas no meio de tantos afazeres profissionais, Jorge Nuno Pinto da Costa nunca escondeu a sua verdadeira paixão, que era o FC Porto, de quem foi sócio desde 1954, ou seja, desde os seus 17 anos.
E não demorou muito tempo a chegar ao clube azul e branco. Com apenas 25 anos, e através de um amigo, chega a vogal da secção de hóquei em patins do FC Porto e começou a subir aos poucos na estrutura. Passa depois por chefe da secção de hóquei em campo, assume ainda a secção de boxe e finalmente em 1976 chega onde ambicionava, ao futebol, concretamente para o lugar de diretor.
Pinto da Costa queria mais e nunca o escondeu. Em 1982 consegue então a sua cadeira de ouro, a presidência do seu clube de sempre. Um capítulo que viria a ser de ouro. Se até então o FC Porto tinha apenas sete campeonatos nacionais de futebol e quatro Taças de Portugal, Pinto da Costa acabaria por conquistar um total de 69 títulos apenas no futebol (mais de 1300 entre todas as modalidades.
As suas conquistas no futebol:
- 2 Taças Intercontinentais (1987, 2004);
- 2 Liga dos Campeões (2004) / Taça dos Campeões Europeus (1987):
- 2 Taça UEFA (2003) / Liga Europa (2011);
- 1 Supertaça Europeia (1987);
- 23 Campeonatos de Portugal / I Liga (1985, 1986, 1988, 1990, 1992, 1993, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2003, 2004, 2006, 2007, 2008, 2009, 2011, 2012, 2013, 2018, 2020 e 2022);
- 15 Taças de Portugal (1984, 1988, 1991, 1994, 1998, 2000, 2001, 2003, 2006, 2009, 2010, 2011, 2020, 2022 e 2023);
- 22 Supertaças (1983, 1984, 1986, 1990, 1991, 1993, 1994, 1996, 1998, 1999, 2001, 2003, 2004, 2006, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2018 e 2020 e 2022);
- 1 Taça da Liga (2023).
É ainda hoje o homem com mais anos e mais títulos à frente de um só clube, um recorde de 42 anos e então 69 títulos. Mais que os títulos também, recolheu além-fronteiras enorme prestígio junto do universo do futebol.
O Apito Dourado
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O futebol e a polémica há muito que andam de braços dados e Pinto da Costa também não fugiu a muitas, uma das quais que colocou mesmo em causa a verdade desportivo, com o célebre processo Apito Dourado, em 2004.
Um processo que se baseou essencialmente em escutas que colocavam em causa muitos resultados desportivos do FC Porto. Numa das quais, a Polícia Judiciária escuta um telefonema do presidente do FC Porto, na véspera do jogo FC Porto-Estrela da Amadora, em que um empresário fala em "fruta" (alegadamente prostitutas) para dar ao árbitro do jogo, Jacinto Paixão.
Outra polémica deste caso terá sido também o facto de Pinto da Costa ter sido avisado, um dia antes de toda esta polémica, sobre a sua suposta detenção e ter fugido para Espanha, em Dezembro de 2004.
As investigações acabariam por incriminar o então presidente do Futebol Clube do Porto, entre outros, e tanto o clube como Pinto da Costa chegaram mesmo a ser condenados.
Em Maio de 2008, o Comité Disciplinar da Liga condenou Jorge Nuno Pinto da Costa a uma suspensão de dois anos e o FC Porto perdeu seis pontos na classificação e foi multado em 150 mil euros por tentativa de suborno, castigos posteriormente anulados pelo Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol que deu razão a Pinto da Costa e ao clube nos seus recursos.
A queda do trono
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Foram 42 anos no poder, 42 anos de muitos títulos e muitos, durante muitos anos, perguntavam-se quem poderia ser o seu sucessor, ou eventualmente quem poderia ganhar uma eleição a Pinto da Costa.
Alguns ainda tentaram tirá-lo da cadeira do poder durante os seus 42 anos, mas as vitórias sempre foram expressivas, do lado de Pinto da Costa. Parecia mesmo não haver rival para o homem que é visto como um ídolo para a vasta maioria dos sócios e adeptos do FC Porto, um pouco à imagem do que Eusébio foi para o Benfica.
Parecia não haver rival até maio deste ano, quando Pinto da Costa resolveu concorrer contra André Villas-Boas, um antigo treinador dos azuis e brancos e com quem partilhou glória com o ex-presidente.
Villas-Boas acabaria por vencer, por larga margem, e Pinto da Costa sairia dos azuis e brancos 42 anos depois.
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