O relatório final da tragédia do avião da Germanwings, ocorrida há quase um ano, foi hoje apresentado em conferência de imprensa. No desastre, recorde-se, morreram 150 pessoas. Andreas Lubitz, o piloto, sofria de depressão e nos meses anteriores ao acidente tinha consultado vários médicos, mas nenhum terá alertado os seus empregadores. O relatório, que confirma a tese de que se tratou de um acto deliberado, acrescenta ainda que o piloto teria sido convocado a ir a um hospital psiquiátrico poucas semanas antes do acidente.
Na altura, o acidente levou a um apelo para maior controlo médico do estado dos pilotos. A Agência Europeia de Segurança Aérea (EASA) recomendou, a título temporário, a presença permanente de duas pessoas na cabine durante o voo. Mas essa medida, aplicada voluntariamente desde o drama pela maioria das empresas europeias, não teve aprovação unânime. O sindicato dos pilotos alemães estimou que implica mais riscos do que vantagens. O relatório do BEA (Gabinete de Inquéritos e Análises para a Segurança Aeronáutica) vem agora dar novas recomendações.
As conclusões e recomendações do relatório
O relatório sugere um reforço da avaliação do estado psicológico dos pilotos: caso haja um histórico de problemas de saúde mental, os pilotos deverão ser avaliados anualmente.
Remy Jouty, director do BEA, confirma que Lubitz estava a tomar anti-depressivos na altura da tragédia. De acordo com o regulamento, o piloto deveria ter alertado para esse facto quando regressou ao trabalho depois de um período de baixa médica, o que não fez. Jouty revela ainda que já quando se candidatou a piloto, em 2008, Lubitz mentiu, uma vez que embora já lhe tivesse sido diagnosticada uma depressão, não referiu qualquer histórico de problemas de saúde mental, uma das questões que eram explicitamente colocadas na candidatura.
A partir dos relatórios de vários médicos privados que Lubitz consultou nos meses antes do acidente, os peritos médicos concluem que ele sofria de um 'episódio depressivo psicótico'. Caso tivessem conhecimento, as autoridades aeronáuticas e a própria Germanwings teriam proibido o piloto de voar. Mas Jouty acrescenta que o princípio do sigilo médico, essencial na relação de confiança entre médicos e pacientes, deve ser mantido.
Ainda assim, o BEA avança com uma recomendação: alterar a lei que protege os médicos nas situações em que estes transmitam informação médica sobre os seus pacientes com o objectivo de proteger o público, para garantir "um equilíbrio entre a confidencialidade do doente e a segurança pública". "Regras mais claras devem ser exigidas para saber quando é que é necessário levantar o segredo médico", declarou Arnaud Desjardins, um dos especialistas encarregados pela investigação deste acidente. Essa recomendação será passada à Organização Mundial de Saúde, ao ministério alemão dos transportes e ao Conselho de Médicos Alemão.
Quanto à questão de ter ou não mais de uma pessoa no cockpit, o relatório diz que é difífil criar um sistema que, ao mesmo tempo, impeça que o cockpit seja trancado por dentro, sem possibilidade de acesso, e que proteja de eventuais actos terroristas.
O relatório confirma que o capitão Patrick Sondenheime, que tinha ido à casa-de-banho, ausência aproveitada por Lubitz para se trancar, tentou forçar a entrada no cockpit, usando um pé-de-cabra e uma botija de oxigénio, mas não conseguiu. Tentou também contactar o cockpit através dum intercomunicador, mas sem sucesso.
Em resposta aos jornalistas, Jouty disse que o relatório sugere novas regras sobre a presença de mais de uma pessoa no cockpit, permanentemente, mas que os mecanismos de defesa das portas não serão alterados. "O risco de terrorismo está sempre presente, e o mais importante é proteger o cockpit de potenciais terroristas". Jouty acrescenta que a queda do avião se deveu em parte a "falhas por parte do piloto" e que não há recomendações que possam garantir que uma tragédia destas não volta a acontecer: "Sabemos que as nossas recomendações podem aumentar a segurança, mas não vamos sugerir que vão ser uma barreira 100% eficaz".
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