“Estes três óbitos foram registados todos na cidade de Maputo e resultam de baleamentos. São referentes a pessoas que estavam aglomeradas (...), à espera de ver Venâncio Mondlane passar, e, no outro contexto, as vítimas foram baleadas no ponto em que Mondlane discursou”, declarou à Lusa Wilker Dias, diretor da Plataforma Decide, uma organização não-governamental.

A Polícia da República de Moçambique dispersou hoje, no centro de Maputo, com recurso a tiros e gás lacrimogéneo, uma multidão de apoiantes que ouviam, no mercado informal Estrela, o candidato presidencial Venâncio Mondlane, uma hora depois de ter regressado ao país, após dois meses e meio no estrangeiro, de onde liderou as manifestações contra os resultados eleições de 9 de outubro.

Ao fim de alguns minutos, ao falar aos apoiantes em cima de um carro de som, em que simbolicamente voltou a prestar juramento do que autointutulou tomada de posse, e, depois de vários disparos e gás lacrimogéneo lançado pelas forças de segurança, uma carga policial provocou a fuga generalizada, logo o após o apelo de Venâncio Mondlane para desmobilização, perante o som dos tiros.

Segundo o diretor da Plataforma Decide, pelo menos seis pessoas foram baleadas e há um número ainda por calcular de feridos durante a confusão da fuga.

Ao início da tarde, embora sem confrontos, Maputo continuava a 'meio gás', com o comércio a reabrir timidamente, mas com algumas vias ainda bloqueadas com contentores de lixo e pedras por manifestantes, sobretudo na periferia.

“Quando percebi que confusão parou, decide voltar à rua para trabalhar para ver se consigo ter algumas moedas. Mas o movimento está fraco. Não há carros na cidade”, disse à Lusa Benvindo Martins.

Com os novos dados, segundo último relatório da Plataforma Decide, o número de óbitos em resultado das manifestações desde outubro sobe para 294, com um total de 604 baleados, 22 desaparecidos e 4.218 detenções em manifestações.

O candidato presidencial chegou hoje a Maputo cerca das 08:20 locais (06:20 em Lisboa), após dois meses e meio fora do país, seguindo depois para o centro da capital moçambicana com a sua comitiva rodeada de milhares de pessoas.

Nas declarações aos jornalistas no aeroporto, Mondlane acusou as autoridades moçambicanas de "uma espécie de genocídio silencioso" na repressão à contestação dos resultados das eleições gerais de 9 de outubro, mas manifestou-se disponível para o diálogo e para negociar.

O candidato justificou o regresso com o facto de não poder continuar fora do país quando o povo “está a ser massacrado”.

O Ministério Público abriu processos contra o candidato presidencial, enquanto autor moral de manifestações que, só na província de Maputo, terão causado prejuízos, devido à destruição de infraestruturas públicas, no valor de mais de dois milhões de euros.

O Tribunal Supremo já afirmou, anteriormente, que não existe qualquer mandado de captura emitido contra Mondlane.
Em 23 de dezembro, o Conselho Constitucional, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), vencedor da eleição presidencial, com 65,17% dos votos, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar.