Em declarações aos jornalistas numa iniciativa de contacto com a população na estação do Campo Grande, em Lisboa, Paulo Raimundo foi questionado sobre as declarações do ministro da Saúde, que considerou que o funcionamento rotativo dos serviços de urgência hospitalar poderá ser uma resposta para assegurar cuidados.
Na resposta, Paulo Raimundo sublinhou que, inicialmente, o Governo avançou com a rotatividade das urgências nos serviços de obstetrícia como uma “medida pontual”, para permitir que não fechassem.
“Nós na altura alertámos para uma questão que hoje parece ser uma evidência, que é: aquilo que é hoje apresentado como pontual, para responder a um problema concreto, é a ideia, o objetivo e a matriz do Governo para implementar como se fosse a regra de funcionamento das urgências”, disse.
O líder do PCP considerou que essa situação é intolerável, referindo que as “urgências dos hospitais, obstétricas, não se compadecem com ‘fecha hoje, fecha amanhã, vai ver à internet onde é que está aberto’”.
“Nós não aceitamos, e os utentes e trabalhadores não podem aceitar que esse regime, que foi apresentado como pontual, seja agora o padrão de funcionamento. Não aceitamos isso”, disse.
No dia em que os estatutos da Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS) entram em vigor - tendo sido publicados esta quinta-feira -, o secretário-geral do PCP foi ainda questionado se considera que essa formalização pode resolver algum problema.
Paulo Raimundo admitiu não ter “fezada nenhuma nisso”, porque “a opção do Governo, infelizmente, é desmantelar o SNS, é retirar e transferir serviços, é criar todas as condições para que haja o mínimo de capacidade de resposta possível”.
“Ora, a direção executiva do SNS, o objetivo que tem é operacionalizar todo esse processo e objetivo. Portanto, não tem a ver com pessoas, com ter estatuto ou não - isso é o menor -, tem a ver com uma opção política de desmantelamento do SNS”, disse.
Sobre a proposta do ministério da Saúde feita esta quinta-feira aos sindicatos - que prevê um suplemento de 500 euros mensais para os médicos das urgências e a possibilidade de poderem optar pelas 35 horas semanais -, Paulo Raimundo considerou que foi preciso “esperar 16 meses para o Governo apresentar alguma coisa de concreto”.
“Foram 16 meses de enrolar negociações, de adiar reuniões, para, 16 meses depois, com as urgências na situação em que estamos, com os centros de saúde sem médicos de família, chegarmos agora a esta situação. Não se compreende”, disse.
O dirigente do PCP referiu ainda que está convencido que, nas negociações com o Governo, os “profissionais farão tudo ao seu alcance para garantir as melhores condições possíveis”, e defendeu que é preciso “um investimento muito grande no SNS” e não transferir “mais dinheiro para o setor privado”.
“Se nós quisermos fixar médicos no SNS, uma das medidas concretas é a que nós avançámos, e que o Governo tem de ter em conta, que é uma majoração salarial de 50% para os médicos que decidam ficar em dedicação exclusiva no SNS”, indicou.
Na segunda-feira, o ministro da Saúde disse que o funcionamento rotativo dos serviços de urgência hospitalar já é há muito implementado em algumas zonas do país e admitiu que poderá ser uma resposta para assegurar os cuidados.
Questionado sobre a possibilidade de os doentes serem encaminhados para outros hospitais como acontece com as urgências obstétricas quando os serviços estão fechados, o ministro da Saúde sublinhou que essa forma de organização não é uma novidade, mas poderá ser generalizada.
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