Numa sessão evocativa dos 50 anos da morte de Amílcar Cabral, que decorreu hoje na Casa do Alentejo, em Lisboa, Paulo Raimundo sublinhou que recordar esse “trágico acontecimento” é um “dever de memória” para o PCP, “para não deixar cair no esquecimento um crime monstruoso”.
“Num tempo em que a reescrita e a falsificação da História promove e normaliza as forças mais reacionárias e agressivas por esse mundo fora e quando, em Portugal, saudosos do antigamente procuram branquear o fascismo e o colonialismo e apagar os seus crimes, é necessário, com determinação, afirmar e defender a verdade histórica e a justeza da marcha da luta dos trabalhadores e dos povos pela sua libertação”, alertou.
Perante uma sala cheia, com representantes da FRELIMO, MPLA, PAIGC e PAICV a ouvi-lo, Paulo Raimundo alegou que o “PCP foi único partido que, desde a sua fundação [em 1921], denunciou os crimes do colonialismo, combateu as teses de feição colonial e neocolonial da oposição liberal e social-democrata”.
“Aqueles que hoje pretendem diminuir e apagar o papel do PCP, sobrevalorizando tomadas de posição anticoloniais de outros, já surgidas com a Revolução de Abril no horizonte, estão de facto a prestar um mau serviço à verdade histórica e ao esclarecimento das novas gerações”, enfatizou, provocando um longo aplauso da plateia.
Salientando que “a luta em defesa da verdade histórica assume uma grande importância por ocasião dos 50 anos do 25 de Abril”, que se celebram em 2024, Paulo Raimundo referiu que o Comité Central do PCP decidiu promover iniciativas para mostrar “o que realmente representou a Revolução de Abril”.
Estas iniciativas, segundo o secretário-geral comunista, visam também projetar os valores do 25 de abril para “a luta na atualidade contra a política de direita, por uma alternativa patriótica e de esquerda, por uma democracia avançada, pelo socialismo”.
“Uma luta que passa igualmente pelo combate contra a promoção das forças, projetos e conceções reacionárias e fascizantes, contra o racismo, a xenofobia e neocolonialismo nas suas mais diversas expressões, uma luta que passa pela afirmação e reafirmação dos valores da liberdade, da democracia, do patriotismo e do internacionalismo”, sublinhou.
Sem nunca citar partidos, o secretário-geral do PCP sublinhou que “a liquidação do fascismo em Portugal e a conquista da independência da Guiné e demais colónias portuguesas corresponderam a uma necessidade histórica e à vontade dos povos”.
“Quaisquer tentativas de subverter esta realidade tem que ser fortemente combatida”, vincou.
Num discurso de cerca de 20 minutos, Paulo Raimundo foi sucessivamente conjugando o pensamento e legado de Amílcar Cabral com a situação presente, deixando várias advertências sobre a atualidade.
A nível internacional, o secretário-geral do PCP considerou que o pensamento de Amílcar Cabral é um “legado precioso de confiança na força invencível da luta organizada dos povos pela sua soberania e direitos”, numa altura em que “o imperialismo procura incutir nas massas populares a ideia de que não há alternativa à sua política de exploração, confrontação e guerra, e prega o conformismo e desistência”.
Paulo Raimundo advertiu também para as “conceções e práticas de novas colonizações” que, “em nome de um requentado conceito de ‘civilização ocidental’”, estão em curso no plano internacional e que “encerram grandes perigos para a independência e o progresso dos povos africanos”.
“Cinquenta anos passados sobre o assassinato de Amílcar Cabral, não é possível ignorar as dificuldades, retrocessos e perigos com que os povos estão confrontados devido à contra-ofensiva ideológica, económica e militar do imperialismo”, sublinhou.
Apesar disso, Paulo Raimundo disse que o seu partido está convencido que, “mais cedo do que tarde”, os ideais a que o Amílcar Cabral “dedicou toda a sua vida acabarão por triunfar”.
Nesta sessão evocativa dos 50 anos da morte de Amílcar Cabral, assassinado em 20 de janeiro de 1973 em Conacri, marcaram presença os embaixadores em Portugal da África do Sul, Cuba e Timor-Leste e diplomatas de Moçambique, Cabo Verde, Angola, China e Argélia.
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