Na véspera de uma cimeira europeia que terá o ‘Brexit’ como tema central, o eurodeputado do PSD anteviu uma discussão que pode ser perturbada por “um conjunto de riscos adicionais que são exteriores à relação entre a UE e o Reino Unido”, mas exclui a possibilidade de um ‘no deal’.
“Sinceramente, eu acho que é um risco que não corremos. Uma coisa é estarmos muito próximos de um acordo e ser preciso uma nova cimeira em novembro para o fechar, o que, aliás, foi algo que chegou a estar previsto em setembro. Para dizer a verdade, as coisas correram melhor, por isso é que essa hipótese [de uma cimeira adicional] não tem sido falada, porque se acha que se pode chegar a acordo já em outubro”, salientou.
Paulo Rangel vê como “perfeitamente possível” que os chefes de Estado e de Governo que estarão reunidos em Bruxelas entre quarta e quinta-feira, consigam fechar “um acordo de princípio”, mas que seja precisa outra ronda para “afinar os termos da declaração política, para negociar um ou outro aspeto técnico”.
“Não diria que sair de outubro sem acordo seja uma má notícia, depende muito do estado em que saímos. Ou saímos num impasse, e aí é uma má notícia, porque não vai haver tempo para grandes negociações, ou estamos muito perto do fim e é preciso um pouco mais de trabalho”, pontuou.
O eurodeputado social-democrata notou “um movimento muito forte depois da cimeira de Salzburgo, em que as posições se extremaram”.
“[Emmanuel] Macron foi bastante duro, Theresa May também fez um discurso de propósito bastante duro. Ambas as partes começaram a trabalhar num cenário de não acordo e isso criou uma espécie de pressão para que houvesse disponibilidade para negociar. Mesmo alguns radicais pró-‘Brexit’ já deram a entender que aceitariam um período de transição, não de dois mas de quatro anos ou de três anos. Houve aqui algumas cedências de parte a parte, que podem criar para a cimeira um clima positivo”, considerou.
Contudo, o vice-presidente do PPE, a maior família do Parlamento Europeu, alertou para a possibilidade de que “mesmo que as coisas estejam bem encaminhadas”, alguns países que estão neste momento com contenciosos com a UE por outras razões, como a Hungria, ou a Itália, possam tentar usar “a necessidade de consenso nesta matéria para outros fins que não a negociação do ‘Brexit’”.
“Há aqui um conjunto de riscos adicionais que são exteriores à relação entre a UE e o Reino Unido que podem também complicar a fase final das negociações”, completou.
Sobre a hipótese, ventilada nos bastidores de Bruxelas, de a cimeira se prolongar no tempo, Rangel lembrou que aquilo que é natural é que venha a haver um prolongamento grande das sessões negociais.
“Em todos os acordos históricos da UE, nas matérias mais difíceis, nos tratados mais reformadores, houve sempre uma espécie de ‘after hours’. Tudo é decidido de madrugada. Portanto, é natural que se houver perspetiva de um acordo, que isto se prolongue. Durar mais tempo é um bom sinal, é sinal que estão perto do fim que vale a pena ficar ali mais algum tempo. Se as coisas estiverem muito atrasadas, acabará tudo muito depressa, porque será necessária outra ronda”, previu.
Quatro quintos do acordo de “divórcio” entre o Reino Unido e a União Europeia estão fechados e ambas as partes negoceiam “dia e noite” para ultrapassar os últimos obstáculos até à Cimeira europeia que se inicia na quarta-feira.
O Reino Unido vai deixar a UE em 29 de março de 2019, dois anos após o lançamento oficial do processo de saída, e quase três anos após o referendo de 23 de junho de 2016 que viu 52% dos britânicos votarem a favor do 'Brexit'.
No topo das preocupações está a difícil questão da fronteira irlandesa, mas há outros pontos a resolver, quando faltam menos de seis meses para o ‘Brexit’.
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