“Nesse sentido, todas as dioceses portuguesas já estão a trabalhar há anos com a constituição e funcionamento das suas comissões diocesanas, que são depois também ajudadas por uma coordenação nacional”, disse Manuel Clemente em conferência de imprensa, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, que decorre de terça-feira a domingo.
Naquelas comissões, segundo o prelado, “participam pessoas muito profissionalizadas, desde elementos ligados à polícia, magistratura, psicologia e à psiquiatria”, na sua maioria leigos, “que estão lá pela sua competência profissional”.
O patriarca de Lisboa destacou ainda o protocolo estabelecido com a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), a criação recente do Grupo Vita, coordenado pela psicóloga Rute Agulhas, e que veio substituir, de algum modo, a comissão independente para o estudo dos abusos sexuais na Igreja Católica em Portugal, que foi liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.
“Em termos de instalação de uma rede de proteção e de prevenção de acontecimentos desse género estamos a trabalhar e continuaremos a trabalhar”, disse Manuel Clemente que, sobre as manifestações de protesto contra a Igreja devido aos casos de abuso, disse: “Vivemos numa sociedade democrática e livre. O direito à manifestação é público. Da nossa parte, o compromisso é total em resolver este problema”.
Já sobre a possibilidade de as vítimas de abuso sexual no seio da Igreja serem lembrados nesta JMJ, o cardeal confirmou que o Papa Francisco se encontrará com vítimas, mas não revelou quando, nem onde, assegurando que também desconhecia esses pormenores até ao momento.
No final de 2021, a Conferência Episcopal Portuguesa nomeou o pedopsiquiatra Pedro Strecht como coordenador da comissão independente que fez o estudo sobre os casos de abuso sexual na Igreja.
Esta comissão iniciou o seu trabalho no dia 11 de janeiro de 2022 e apresentou resultados em fevereiro deste ano, com o anúncio da validação de 512 testemunhos de alegados casos de abuso em Portugal, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas.
Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.
No relatório, aquela comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais “devem ser entendidos como a ‘ponta do iceberg'” deste fenómeno.
Na sequência destes resultados, algumas dioceses afastaram cautelarmente sacerdotes do ministério.
Em 03 de março, a CEP anunciou que um memorial de homenagem às vítimas seria apresentado na JMJ, mas, entretanto, a Conferência informou que isso já não acontecerá, pois “ainda está em estudo”.
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