"É doentio que, no atual Governo, que leva um ano de existência, persista esta tentação de estar sempre a fundamentar decisões que tomam ou apreensões que as pessoas podem ter com trabalho do anterior Governo", acusou Pedro Passos Coelho, na sua intervenção inicial no Conselho Nacional do PSD, aberta à comunicação social.
Passos Coelho, que discursou durante cerca de 45 minutos, boa parte deles dedicados ao sistema financeiro, classificou o processo em curso de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) como "todo um manual de cinismo político insuportável".
"Quando o Governo a que presidi adotou relativamente à CGD um plano que assumiu junto da DGCOM (Direção Geral da Concorrência) que previa o encerramento de balcões e despedimentos era sinónimo de que queríamos emagrecer o banco e privatizar", disse, acusando a atual solução de prever ainda mais encerramentos e saída de pessoal.
Passos voltou a considerar o valor dos juros da emissão obrigacionista de hoje da CGD - 10,75%- "escandalosamente elevado".
"O Governo considera esta operação um sucesso e eu digo que é escandalosamente uma forma de querer impor aos portugueses e aos contribuintes um custo demasiado elevado", criticou.
O líder do PSD voltou também a responsabilizar os Governos PS que antecederam o seu de serem responsáveis pela maoria do crédito mal concedido pela Caixa.
"Quero aqui dizer ao primeiro-ministro, que se é preciso pôr muito dinheiro na Caixa foi por crédito concedido de forma demasiado arriscada no tempo em que governos socialistas foram cúmplices do crédito atribuído à economia e também na CGD", acusou.
Passos Coelho defendeu que a nova administração da Caixa mudou a forma de classificar o crédito de risco e alertou que tal pode ter consequências no futuro.
"Toda a parte desse crédito que puder ser recuperado será lucro excecional para a Caixa, para o Governo poder dizer que no nosso tempo deu prejuízo e agora deu lucro", concretizou.
Sobre a divulgação, prevista para hoje, dos dados do défice pelo INE, o líder do PSD considerou que o Governo não teria necessitado de tomar tantas medidas extraordinárias ou irrepetíveis - como o PERES ou o programa de reavaliação de ativos - se tivesse feito outras escolhas.
"Preferiam no PSD que tivéssemos mais de 3% de défice do que estas medidas? Não, eu prefiro assim, eu prefiro que o país cumpra as suas metas", disse, mas defendendo que não seriam necessários tantos cortes no investimento nem tantas medidas extraordinárias.
No início da sua intervenção, Passos Coelho começou por falar da situação na Europa e considerou positiva a reação unânime em Portugal de condenação das recentes declarações do presidente do Eurogrupo mas deixou uma ?farpa' ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
"Não deixa de ter uma pontinha de ironia que tenha sido o mesmo MNE que se referiu à concertação social como uma feira de gado que tivesse chamado a atenção dos termos que o presidente do Eurogrupo utilizou para caracterizar as tensões no seio da Europa", disse, embora congratulando-se que o Governo português "não tenha deixado de passar em claro uma declaração inadmissível".
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