Pedro Passos Coelho falava na abertura de uma conferência promovida pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), numa intervenção subordinada ao tema da "União Europeia e as Relações Transatlânticas".
Em relação aos Estados Unidos, o ex-primeiro-ministro e líder social-democracia afirmou esperar que "a poeira assente" após as últimas eleições presidenciais e exista a prazo uma abordagem diferente em relação à União Europeia.
Pedro Passos Coelho apontou com preocupação o facto de a administração norte-americana "ter pela primeira vez" uma atitude de "hostilidade" face à organização política da União Europeia, quase fazendo um convite a vários Estados-membros para que façam como o Reino Unido e contribuam para a sua desintegração.
"Os Estados Unidos antes queixavam-se da existência de uma União Europeia com múltiplos interlocutores. Agora parecem apostar numa relação bilateral com os Estados-membros - uma perspetiva que não é desejável", referiu.
Do lado da União Europeia, Pedro Passos Coelho também identificou fenómenos preocupantes que se agravaram após a crise financeira de 2008 e considerou que as atuais eleições presidenciais francesas "são o símbolo" do "choque" em torno das tensões existentes, com fenómenos populistas de extrema-direita ou de extrema-esquerda, com a emergência de nacionalismos e de conceções protecionistas.
Para o presidente do PSD, a União Europeia enfraqueceu no plano da defesa e da sua dimensão atlântica com a decisão de saída do Reino Unido e depara-se no presente com riscos diversos ao nível da segurança nas suas fronteiras a sul (no Mediterrâneo), a leste com a Rússia e em relação ao Médio Oriente.
"Julgo que voltar a uma ideia de Europa da segurança e da defesa fora do quadro da NATO não promove a estabilidade e a segurança global. É muito importante que os Estados-membros que fazem parte da NATO invistam mais na defesa, mesmo que isso para alguns represente uma escolha difícil, porque a Europa ainda está muito a lamber as feridas da última crise económica e financeira", declarou.
Porém, para Passos Coelho, esse acréscimo de investimento da Europa na defesa é inevitável, "mas não para olhar apenas para si própria".
"Um esquema europeu de defesa em relação ao atlântico é irracional, porque se revelará mais dispendioso, e principalmente arriscado, já que a Europa enfrenta ameaças de caráter global. Tem de haver também do lado dos Estados Unidos a ideia de que a estabilidade global depende desta relação transatlântica", acentuou ainda o ex-primeiro-ministro português.
A terminar, Pedro Passos Coelho deixou mensagens de esperança face à evolução da União Europeia e dos Estados Unidos: "Espero que a Europa possa completar o seu edifício em termos monetários e económicos, ultrapassando estas tensões nacionalistas e populistas; e espero que do lado dos Estados Unidos a poeira também assente e quanto mais distante se ficar da campanha [presidencial] mais se regresse às opções centrais do pós-queda do Muro de Berlim e que continuam a ser da maior relevância para os dois lados do Atlântico", sustentou o líder social-democrata.
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