A 15.ª edição da Universidade de Verão do PSD, iniciativa de formação de jovens quadros que decorre em Castelo de Vide (Portalegre), arrancou na segunda-feira, mas foi na quarta-feira que Cavaco Silva regressou à intervenção política, com uma ‘aula’ sobre “Os Jovens e a Política: Quando a realidade tira o tapete à ideologia”.
O anterior chefe de Estado defendeu que "a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia" – referindo explicitamente os casos de França e Grécia mas aludindo a um terceiro, sem dizer o nome de Portugal - e considerou que aqueles que, nos governos, querem realizar a revolução socialista "acabam por perder o pio ou fingem que piam".
O ex-Presidente criticou também o que considera ser a "verborreia frenética" da maioria dos políticos europeus, elogiando a exceção do Presidente francês, Emmanuel Macron, e pediu aos jovens "força e coragem para combaterem o regresso da censura".
As declarações mereceram reações críticas de PS e BE – com os socialistas a dizerem que gostariam que Cavaco tivesse “piado mais” quando estava em Belém – e até do primeiro-ministro e do Presidente da República, já que algumas das críticas foram interpretadas como dirigidas a Marcelo Rebelo de Sousa.
Ainda a polémica à volta de Cavaco marcava a agenda política, quando Paulo Rangel, numa ‘aula’ na sexta-feira na Universidade de Verão sobre “Portugal e o futuro da Europa”, acusou António Costa de "confundir o Estado social com o Estado salarial" aumentando rendimentos mas, para cumprir as metas orçamentais europeias, fazer "cortes brutais" em áreas como a educação, saúde, segurança e proteção civil.
"O que lamento é que, para cumprirmos as metas europeias e criar a tal ilusão do Estado salarial, tenhamos criado condições de deterioração, de degradação dos nossos serviços públicos essenciais que já causaram vítimas e não foram poucas, é isto que eu lamento", acusou.
Na resposta, o PS considerou "indigno" que Paulo Rangel estivesse a tentar tirar ganhos políticos da tragédia de Pedrógão Grande, acusando o eurodeputado do PSD de mentir porque o Governo não fez cortes, mas aumentou orçamentos em áreas centrais do Estado.
Na sexta-feira à noite, Passos Coelho comentou os dois discursos polémicos acusando o PS de "evidenciar um tique de intolerância" ao responder com ataques pessoais às críticas políticas que são feitas ao Governo e dizendo não ver no discurso de Cavaco Silva qualquer crítica direta ao atual chefe de Estado nem nas palavras de Paulo Rangel uma referência aos mortos nos incêndios de Pedrógão Grande deste verão.
"Quando o Dr. Paulo Rangel diz que os portugueses são vítimas destas políticas do Governo na área da Saúde, da Defesa, da Educação, na Proteção Civil, da Segurança, não está a dizer mais do que a realidade e o Governo deve saber lidar com essa crítica", defendeu em Vila Real, na apresentação das listas autárquicas do concelho.
A menos de um mês das eleições autárquicas, a Universidade de Verão do PSD representa o momento de ‘rentrée’ política do partido, embora Passos Coelho já tenha feito o tradicional comício de verão do Pontal (Faro) em 13 de agosto.
Há um ano, em Castelo de Vide, o líder do PSD afirmou que a atual solução governativa estava condenada ao "fiasco e ao fracasso", sublinhando que PS, BE e PCP apenas se entendem para gerir o dia-a-dia e que qualquer reforma provoca desentendimentos.
Passos Coelho recusava ainda em 2016 qualquer pressa em regressar ao Governo para o partido se "desforrar", sublinhando que o país é mais importante do que "salvar a pele" ou "um resultadozinho" nas eleições, rejeitando também que o PSD pudesse substituir o discurso moderado e realista por medo do triunfo do radicalismo.
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