“A disponibilidade de um purpurado para dar o seu próprio sangue – significado na cor vermelha das suas vestes – é certa, quando está enraizada nesta consciência de ter recebido compaixão e na capacidade de ter compaixão. Caso contrário, não se pode ser leal”, afirmou Francisco, que falava na Basílica de São Pedro, no Vaticano, durante a cerimónia em que hoje são investidos 13 novos cardeais (10 eleitores e três não eleitores num futuro conclave).
O líder da Igreja Católica disse na homília que “muitos comportamentos desleais de homens da Igreja dependem da falta deste sentimento da compaixão recebida e do hábito de passar ao largo, do hábito da indiferença”.
Antes da imposição do barrete cardinalício, o papa argentino questionou mesmo os futuros cardeais se têm viva a consciência desta compaixão, que não é uma “coisa facultativa” ou um “conselho evangélico”.
“É um requisito essencial. Se não me sinto objeto da compaixão de Deus não compreendo o seu amor. Não é uma realidade que se possa explicar, ou a sinto ou não”, continuou o papa, acrescentando: “E, se não a sinto, como posso comunicá-la, testemunhá-la, dá-la?”.
“Concretamente, tenho compaixão pelo irmão tal, pelo bispo tal, pelo padre tal? Ou sempre destruo com a minha atitude de condenação, de indiferença?”, perguntou Francisco.
Antes, o papa referiu que, “muitas vezes, os discípulos de Jesus dão provas de não sentir compaixão”, notando que basicamente dizem “que se arranjem”.
“É uma atitude comum entre nós, seres humanos, mesmo em pessoas religiosas ou até ligadas ao culto. A função que desempenhamos não basta para nos fazer compassivos, como demonstra o comportamento do sacerdote e do levita que, vendo um homem moribundo na beira da estrada, passaram ao largo”, prosseguiu, citando um excerto do Evangelho de São Lucas a propósito a um grupo de leprosos.
Francisco assinalou ainda que aqueles terão dito para consigo “não é da minha competência”, lamentando que haja “sempre justificações - às vezes até se tornam lei, dando origem a descartados institucionais”.
Para o papa, “deste comportamento muito humano, demasiado humano, derivam estruturas de não compaixão”.
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