“A mensagem da comunidade internacional para aqueles que estão em guerra deve ser clara: tomar o poder pela força militar é uma causa perdida. Isso só pode levar a uma guerra civil prolongada ou ao isolamento completo do Afeganistão”, salientou António Guterres, em declarações aos jornalistas.
O ex-primeiro ministro português alertou para os “tremendos danos” que os combates nas cidades afegãs estão a causar.
E lembrou ainda às duas fações do conflito que alvejar civis constitui crimes de guerra, pelos quais serão responsabilizados.
Guterres, que retomou hoje funções após alguns dias de ausência, convocou a comunicação social para debater a situação no Afeganistão.
“Espero que as discussões em Doha, no Qatar, entre representantes da República Islâmica do Afeganistão e os talibãs, restaurem o caminho para uma solução negociada do conflito. Somente uma solução política negociada sob a liderança dos afegãos pode garantir a paz”, acrescentou.
António Guterres alertou também que as necessidades humanitárias “estão a aumentar a cada hora”, com os hospitais lotados, escassez de alimentos e destruição de infraestruturas básicas.
O diplomata português manifestou-se ainda preocupado com “as primeiras indicações” de que os talibãs estão a “impor severas restrições de direitos humanos nas áreas que já controlam, especialmente sobre mulheres e jornalistas”.
A ONU revelou hoje que está a transferir alguns dos seus funcionários no Afeganistão para Cabul, face ao avanço dos talibãs em muitas áreas do país, mas ressalvou que não se trata de uma “evacuação”.
Com cerca de 300 funcionários internacionais e perto de 3.400 afegãos a trabalhar no país e, apesar do rápido avanço militar dos talibãs, a ONU tem insistido em todos os momentos que a sua intenção é continuar a ajudar os civis.
Os talibãs conquistaram hoje Pul-e-Alam, a capital da província de Logar, situada a apenas 50 quilómetros a sul de Cabul, assim como Lashkar Gah, capital da província de Helman, Kandahar, a segunda cidade do Afeganistão e capital da província com o mesmo nome, Feroz Koh/Chaghcharan, capital de Ghor, e Tirin Kot, capital do Uruzgan.
A maior parte do norte, oeste e sul do país está agora sob o controlo dos rebeldes, que lançaram esta grande ofensiva em maio com o início da retirada das tropas norte-americanas e estrangeiras, a qual deverá estar concluída até 31 de agosto.
Inicialmente, conquistaram grandes áreas rurais sem encontrarem muita resistência. Nos últimos dias, a progressão das forças talibãs acelerou, com vários centros urbanos a cair nas mãos dos rebeldes, igualmente sem grande dificuldade.
Cerca de 250.000 pessoas foram deslocadas pelo conflito desde o final de maio — 400.000 desde o início do ano -, 80% das quais são mulheres e crianças, segundo a ONU.
Muitos civis migraram nas últimas semanas para Cabul, que arrisca uma crise humanitária.
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