Numa entrevista concedida ao La Vie, o “melhor professor do mundo” fez uma síntese do início do seu percurso, que é simultaneamente profissional e religioso: “Depois de tirar o curso de Matemática e Física em 2006, entrei nos franciscanos. A minha formação durou três anos. O frade franciscano que nos ensinava marcou-me”. Aprendeu que, para ter sucesso, era preciso desenvolver a criatividade, o espírito de equipa e, sobretudo, privilegiar a ação e a palavra.
Após essa formação, Peter Tabichi foi enviado como professor para Offaka, uma escola franciscana localizada em Adraa, no Uganda. Foi aí que adquiriu competências mais técnicas, diz: “nesta escola, havia muito poucos materiais didáticos. Ensinar sem um manual escolar e sem Internet obrigou-me a ser mais criativo. Perante estudantes com capacidades limitadas de concentração, também era fundamental possuir um excelente sentido pedagógico”.
Peter Tabichi afirma que também compreendeu que o sucesso destes estudantes passou por ajudá-los a adquirir um espírito de equipa. “Estes métodos – característicos da nossa instituição franciscana – forneceram bons resultados escolares”, afirma.
Frei Tabichi foi então transferido para uma escola pública mista em Keriko, no oeste do Quénia. O elevado número de alunos por turma, por vezes 70 a 80, e o local onde exerce a actividade docente, uma zona miserável no Quénia, em Nakuru, não são características que facilitem a tarefa docente. Mas os resultados escolares impuseram-se ao júri que teve de avaliar o trabalho educativo de cerca de dez mil candidatos oriundos de 179 países.
A imprensa destacou a circunstância de Peter Tabichi retirar 80 por cento do salário que recebe para o usar na ajuda aos alunos mais desfavorecidos. O diário El País notou que, “à paisana, Peter Tabichi tem um porte tão atlético e imponente que até faz pensar que ganhou a medalha de ouro nos 100 metros dos Jogos Olímpicos. Mas ele é um frade franciscano que revolucionou o modo de ensinar matemática e física numa aldeia remota do Quénia”.
Para melhorar o nível da Escola Secundária Keriko, Peter Tabichi e quatro colegas encarregaram-se de ministrar cursos ao domicílio a alunos com dificuldades em matemática e em ciências, noticiou o jornal francês La Croix, referindo ainda que o número de alunos da escola localizada numa povoação paupérrima do vale do Rift duplicou em três anos, cifrando-se presentemente em 400.
A generalidade dos alunos – 95 por cento, para referir a percentagem indicada – são pobres, um terço não tem pai ou mãe e os problemas com drogas, gravidez na adolescência e suicídios são vulgares. Por isso, tal como assinalou o diário espanhol, surpreende que muitos alunos, com idades compreendidas entre os 11 e os 16 anos, sejam capazes de caminhar sete quilómetros por dia para ir à escola.
O jornal El País deu também conta do trabalho assaz diferenciado empreendido pelos dez professores – da Argentina, da Austrália, do Brasil, dos Estados Unidos da América, da Geórgia, da Holanda, da Índia, do Japão, do Quénia e do Reino Unido – que integraram a lista que chegou à final do “Nobel dos professores”. O Global Teacher Prize tem sido concedido anualmente, desde há cinco anos, pela Fundação Varkey, do Dubai.
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