"Não sei se o meu filho está bem, se está doente, não sei está alimentado", disse à AFP o pai, Wilmer Gutiérrez.

A família não sabe porque Merwil Gutiérrez foi levado para o Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), em El Salvador, ao lado de outras dezenas de pessoas. Merwil foi levado pelas autoridades às 23h do dia 24 de fevereiro, que o apanharam depois de sair de casa para comprar comida e parar para cumprimentar alguns vizinhos.

O pai diz que os policias perguntaram por outra pessoa. Depois de verificar a identidade de Merwil, um dos polícias decidiu prendê-lo, com outras duas pessoas.

A última vez que falou com o filho, estava detido numa unidade no Texas. Merwil contou ao pai que seria deportado no dia seguinte. Ambos presumiram que seria para a Venezuela

"Quando soubemos que aqueles voos chegaram em El Salvador (...) pensamos que  estava lá (...). Não tínhamos a certeza, mas também não estávamos certos de que seria enviado à Venezuela, porque nenhum voo sairia", lembra este homem de 40 anos, pai de outras duas filhas. Uma delas, Wisleydy, luta pela libertação do seu irmão na Venezuela.

Até ao momento em que vê o nome do seu filho numa lista do governo americano com o nome dos deportados para El Salvador, não teve certeza de nada.

O Departamento de Segurança Interna não respondeu aos contactos da AFP sobre o caso.

"Sequestros" sem explicação

Sabe-se apenas que Merwil teve "asilo concedido", disse à AFP a advogada Ana de Jesús, da organização Inmigración al Día, para quem o que aconteceu foi "horrível". Junto com outras organizações de defesa dos imigrantes, a adovgada considerou apresentar um mandado de segurança.

"Independentemente de saber se algo pode ser feito, o que estamos a tentar fazer é criar algum ruído, pressão popular, porque o que está a ser feito — não seguir o devido processo legal, não nos permitindo ajudar os nossos clientes — é simplesmente um sequestro", disse.

Um dos casos mais polêmicos é a deportação do salvadorenho Kilmar Abrego Garcia, enviado ao Cecot, apesar de haver uma ordem judicial de 2019 que impede sua deportação.

Para os congressistas latinos Alexandria Ocasio-Cortez e Adriano Espaillat, a detenção de Merwil por agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) é um "sequestro".

"Merwil foi tirado do seu pai e da nossa comunidade sem o devido processo legal, sem acusações criminais e sem uma ordem de deportação emitida por um juiz", denunciaram em comunicado.

As deportações de Trump geraram um debate jurídico nos Estados Unidos devido às falhas e incongruências dos respetivos processos e, antes de tudo, à violação de direitos humanos.

O governo Donald Trump expulsou 288 imigrantes para El Salvador, incluindo 252 venezuelanos acusados de pertencer à gangue Tren de Aragua (TDA), utilizando a Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798.

Na semana passada, um juiz do Texas proibiu deportações sob esta lei, considerando-as "ilegais". Outros tribunais suspenderam-nas temporariamente.

Como chegou aos EUA, e saiu desiludido

Após uma jornada perigosa pela selva de Darién, entre a Colômbia e o Panamá, como centenas de milhares de venezuelanos fizeram durante o governo Joe Biden, Wilmer e o seu filho, então com 17 anos, entraram nos Estados Unidos em 21 de julho de 2023 e pediram asilo.

O seu filho, apaixonado por "roupas e sapatos", também "não tem tatuagens", um dos critérios usados pelo governo americano para prender supostos membros da TDA.

"Se cometeram um erro neste país, deveriam pagar neste país ou enviá-los de volta para a sua nação de origem", diz Wilmer, que desde que chegou a Nova York trabalha à noite, num depósito de encomendas perto do aeroporto, com Merwil. Na noite em que foi preso estava de folga.

"O sonho (de vir para os Estados Unidos) virou um pesadelo. Foi lindo quando viemos. A luta que enfrentámos", diz, enquanto procura no telefone fotos do filho durante a perigosa aventura. "Olha a carinha de criança", diz, com os olhos a brilhar.

"Se o mandassem de volta para cá, eu iria embora com ele. Se o mandassem de volta para a Venezuela (...) eu pegaria na minha mala e partiria", termina.

"Este é o fim do sonho americano".