Peres morreu rodeado pela sua família, disse um amigo, que pediu para não ser identificado. "Faleceu enquanto dormia, eram três da madrugada" confirmou o médico Rafi Walden.
O ex-presidente de Israel sofreu no dia 13 de setembro um acidente vascular cerebral (AVC) grave por hemorragia. Desde então, estava sob respiração assistida na unidade de tratamento intensivo do hospital Tel-Hashomer de Ramat Gan, na região de Tel Aviv, onde faleceu.
Com Shimon Peres desaparece a última pessoa da geração dos pais fundadores do Estado de Israel e um dos principais responsáveis pelos acordos de Oslo, que estabeleceram as bases para a autonomia palestina nos anos 90 e lhe valeram o Prémio Nobel da Paz.
Peres ganhou o prémio Nobel da Paz em 1994, juntamente com Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, "pelos seus esforços a favor da paz no Médio Oriente".
A solução de dois Estados coexistindo em paz - israelita e palestino - "é o único caminho possível para acabar com o terrorismo, a violência e o ódio", disse na época.
A morte de Peres coincide com um período sombrio no processo de paz entre israelita e palestinos, pelo qual tanto lutou: não há perspetiva de solução à vista e a ideia de que os Acordos de Oslo estão sepultados ganha força.
De falcão a Nobel da Paz
Presente nas grandes batalhas da curta história do Estado hebreu, Peres mudou a sua imagem de guerreiro para a de um político de consensos, sendo considerado um "sábio" da nação.
Peres era visto como um falcão trabalhista quando foi ministro da Defesa, nos anos 70, e apoiou a criação das primeiras colónias judaicas na Cisjordânia ocupada.
Teve uma participação crucial no estímulo da indústria bélica de Israel, e também era considerado o "pai" do programa nuclear hebreu.
No início dos anos 90, destacou-se como o homem da paz ao promover os Acordos de Oslo, firmados em 1993 com a Organização da Libertação da Palestina (OLP).
O primeiro-ministro da época, Isaac Rabin, e seu grande adversário entre os trabalhistas, era cético em relação ao caminho diplomático para se chegar à paz, através de um plano que previa a criação de um Estado palestino.
O seu papel nas conversações acabaram por lhe valer o Nobel da Paz, que compartilhou com Rabin e o líder palestino, Yasser Arafat.
Peres também esteve envolvido no esforço de paz com Egito e Jordânia, os dois únicos países árabes que firmaram acordos de paz com Israel.
"Eu não mudei. Acredito que a situação mudou. Enquanto a existência de Israel estava sob ameaça eu era o que vocês chamariam de falcão. Quando percebi que os árabes estavam abertos à negociação, disse que era o que também queríamos", disse.
Uma história de vida
Nascido em 1923 numa família com posses na então Polónia - hoje Belarus -, Peres emigrou em 1934 para a Palestina sob mandato britânico.
Entrou na política aos 25 anos graças ao "velho leão", David Ben Gurion, fundador de Israel, ocupando praticamente todos os cargos de alto nível no país, desde a Defesa, passando pelas Finanças e também pela Política Externa.
Foi ministro em inúmeros governos, assumiu em várias ocasiões o cargo de primeiro-ministro e, depois, de presidente do Estado de Israel de 2007 a 2014.
Como nono chefe de Estado de Israel, Peres utilizou a sua posição para promover a paz, a ponto de se tornar quase o único opositor do líder da direita Benjamin Netanyahu.
Apesar dos acordos de Oslo e das negociações de paz, os palestinos têm uma visão muito mais turva sobre quem garantiu as primeiras colónias judaicas na Cisjordânia, e ainda era primeiro-ministro quando a aviação israelita bombardeou o povoado libanês de Cana, matando 106 civis em abril de 1996.
Aos 93 anos, continuava a ser uma figura muito ativa através do seu "Centro Peres para a Paz", que promove a convivência entre judeus e árabes.
Numa ocasião revelou que o segredo de sua longevidade consistia em fazer ginástica todos os dias, comer pouco e beber uma ou duas taças de bom vinho.
"Todo a gente come três vezes por dia e se comes três vezes encheste de gordura, mas se lês três vezes por dia podes tornar-te num sábio. É melhor ser sábio do que gordo", aconselhava Peres, que afirmava dormir apenas quatro ou cinco horas por noite.
As despedidas de Barack Obama
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, saudou o ex-presidente de Israel Shimon Peres, falecido nesta quarta-feira, como um amigo que jamais deixou de acreditar na paz.
"Esta noite, a Michelle e eu unimo-nos a todos os que, em Israel, nos Estados Unidos e em todo o mundo prestam homenagem à extraordinária vida do nosso querido amigo Shimon Peres", assinalou Obama em um comunicado.
Obama qualificou Peres como "um pai fundador do Estado de Israel e um homem de Estado cujo compromisso com a segurança e a busca da paz era fundamentado na sua inquestionável força moral e no seu incrível otimismo".
Reações de todo o mundo
François Hollande e Joachim Gauck, também saudaram o líder israelita Shimon Peres, falecido nesta quarta-feira, como um campeão que jamais deixou de acreditar na paz.
O presidente francês afirmou que Peres foi "um dos maiores defensores da paz" e "amigo fiel" da França.
"Shimon Peres pertence agora à História, que foi companheira durante a sua longa vida". "Israel perde um dos seus estadistas mais ilustres; a paz perde um de seus mais ardentes defensores, e a França, um amigo fiel", disse Hollande.
Segundo o presidente francês, Peres era um "visionário que impressionava os seus interlocutores com sua capacidade de propor iniciativas audazes e ideias novas".
O presidente alemão, Joachim Gauck, recordou a "força de vontade" de Peres para "fazer avançar o processo de paz com os palestinos".
"Apesar das atrocidades perpetradas [pelos nazis] contra a sua família durante o Holocausto, Shimon Peres estendeu a mão" aos alemães, disse Gauck numa mensagem dirigida ao seu colega israelita, Reuven Rivlin. "Por esta atitude, somos-lhe muito gratos".
"A sua vida ao serviço da paz e da reconciliação pode servir de exemplo para os jovens".
O ex-presidente americano Bill Clinton afirmou que Peres foi "um génio com um grande coração".
Clinton, que supervisionou a assinatura, em Washington, dos Acordos de Oslo entre israelitas e palestinos, disse que Peres foi "um fervoroso advogado da paz e da reconciliação".
"Jamais esquecerei como ficou feliz há 23 anos quando assinou os Acordos de Oslo, anunciando uma era de maior esperança nas relações entre israelitas e palestinos".
De acordo com o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel são várias as figuras internacionais que mostraram a intenção de ir ao funeral de Shimon Peres para prestar a última homenagem ao Nobel da Paz. O Papa Francisco, Barack Obama, Bill e Hillary Clinton e o Papa Francisco já confirmaram a sua presença.
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