A informação foi avançada pela Renascença e já confirmada também pela TSF. Segundo a emissora católica, o sacerdote de Lisboa estava há vários meses com problemas de saúde.
A rádio diz ainda que "depois de uma indisposição sentida na terça-feira, dia 5 de outubro, foi transportado da Casa Sacerdotal para o Hospital Santa Maria, em Lisboa, onde veio a morrer durante a noite."
O seu nome ficará na história da paróquia do Campo Grande (Paróquia da Ermida dos Três Santos Reis), onde foi pároco 20 anos, mas Feytor Pinto foi muito mais do que um padre. Em 1992, o primeiro-ministro Cavaco Silva pediu-lhe ajuda para combater a droga em Portugal e nomeou-o Alto Comissário para o Projeto Vida. Além disso, foi professor de Ética do curso de Enfermagem durante 40 anos, e o seu nome é indissociável do Movimento por um Mundo Melhor, da Acção Católica, da Pastoral Juvenil ou da Pastoral da Saúde.
Foi ainda Assistente Nacional e Diocesano da Associação Católica de Enfermeiros e Profissionais de Saúde (ACEPS), Assistente Diocesano dos Médicos Católicos e Assistente Diocesano da Associação Mundial da Federação dos Médicos Católicos (AMCP), para além de ter sido fundador do Movimento de Defesa da Vida, em Lisboa. Foi também Mestre em Bioética e licenciado em Teologia Sistemática.
Numa entrevista ao SAPO24, em 2019, Feytor Pinto afirmava que “a morte é apenas uma porta: do lado de cá é o limite da natureza, do lado de lá é a ternura de Deus.”
Com ação determinante ao longo do Portugal democrático, Feytor Pinto teve contacto com políticos de todos os quadrantes. Na mesma entrevista, defendia que "os cristãos têm o dever de intervir politicamente, precisamente para garantir a democracia, os valores democráticos", mas com a ressalva de que "de haver coerência entre a fé e a vida". "Há muitos cristãos, muitos católicos, que têm a religião do "eu". Vão à missa, vão à comunhão, mas depois só lhes interessa o que eles pensam, o que eles dizem, o seu partido, os seus interesses. Isto é anticristão", advogou, lembrando um ensinamento do papa Francisco.
Nascido a 6 de março de 1932, desde cedo sentiu o chamamento para o sacerdócio. Aos cinco anos já queria ser padre e aos 10 conseguiu impôr aos pais ir para o seminário do Fundão, onde fez a formação até à sua ordenação em 1955, na diocese da Guarda, aos 23 anos.
Feytor-Pinto teve também a possibilidade de conhecer vários papas ao longo da sua vida. Em 1982 foi dos principais responsáveis por trazer o Papa João Paulo II a Portugal. Já em 2005, o Papa Bento XVI nomeou-o seu capelão, com o título de Monsenhor.
O coordenador nacional da Pastoral da Saúde, padre José Manuel Pereira de Almeida, já reagiu à morte de Feytor-Pinto, que considerou "inovador para o seu tempo".
O padre Feytor-Pinto "foi sempre um inovador para o seu tempo" e "rasgou horizontes", ao fazer a transformação "da pastoral do doente para a pastoral da Saúde", disse à agência Lusa o atual responsável pela Pastoral da Saúde em Portugal.
"Estava já muito fragilizado" pelos problemas de saúde, "mas deu um exemplo, vivendo o seu sofrimento com otimismo". acrescentou o padre José Manuel Pereira de Almeida, destacando também a grande experiência que Feytor-Pinto "adquiriu como capelão hospitalar".
Presidente da República homenageia "mestre pela palavra e pelo exemplo"
O Presidente da República lamentou hoje a morte do padre Feytor Pinto, recordando-o como "uma das figuras mais importantes da Igreja Católica Portuguesa nos últimos cinquenta anos", e prestou homenagem ao "mestre pela palavra e pelo exemplo".
Numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa "lembra, já com saudade, o padre Feytor Pinto", considerando que com a sua morte "desaparece uma das figuras mais importantes da Igreja Católica Portuguesa nos últimos cinquenta anos".
"E, certamente, das mais presentes em movimentos de jovens, de famílias, de comunidades sociais as mais diversas, e das mais sensíveis a todos os grandes problemas da sociedade portuguesa, da educação à saúde, da solidariedade social às migrações, da inclusão ao mundo do trabalho", acrescenta o chefe de Estado.
Marcelo Rebelo de Sousa refere que Feytor Pinto "não precisou sequer de pertencer à hierarquia para ter influência decisiva em momentos essenciais da afirmação da mensagem cristã".
"O Presidente da República homenageia ainda o homem, o mestre pela palavra e pelo exemplo, o cidadão, o português, apresenta os seus mais emocionados sentimentos aos seus familiares e recorda, em particular, uma muito antiga amizade", lê-se na nota.
O chefe de Estado declara que "os anos mais recentes tornaram ainda mais forte" essa amizade, "com o acompanhamento próximo da 'via crucis', feita de amor à vida e de capacidade de resistir e de se reinventar, que o padre Vitor Feytor Pinto demonstrou até ao último minuto" da sua vida.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, Feytor Pinto contribuiu para a "afirmação da mensagem cristã" com "constante visão de serviço e de futuro, ou para ajudar a estabelecer diálogos ecuménicos e a aplanar caminhos em paróquias, dioceses e plataformas de partilha, em momentos cruciais da vida comunitária, desde os anos 70".
Ferro Rodrigues: Forte envolvimento na saúde e sociedade civil ficará na memória
O presidente da Assembleia da República manifestou hoje “profundo pesar” pela morte do padre Vítor Feytor-Pinto, salientando que ficará “na memória de todos” o seu “forte envolvimento em questões de saúde e da sociedade civil”.
Em comunicado, Eduardo Rodrigues relembra que o padre Vítor Feytor-Pinto, que morreu hoje aos 89 anos, nasceu em 1932 em Coimbra e foi ordenado na Diocese da Guarda em 1955, tendo a "sua vida e o seu trabalho" sido "muito influenciados pelo Concílio Vaticano II, do qual foi um fervoroso divulgador".
O presidente da Assembleia da República frisa ainda que o trabalho do padre Feytor-Pinto também ficaria “ligado à reflexão sobre a Pastoral da Saúde e a defesa dos direitos fundamentais, destacando-se igualmente o seu trabalho ao longo de vários anos como responsável da paróquia do Campo Grande”.
“Na memória de todos nós ficará o seu forte envolvimento em questões da saúde e da sociedade civil”, lê-se na nota.
Ferro Rodrigues envia assim, em seu nome “e em nome da Assembleia da República”, “as mais sentidas condolências” à família e amigos do padre Feytor-Pinto.
(Artigo atualizado às 12:07)
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